06 setembro 2009

Uprising

Acordei com um pressentimento positivo, sentia o ar a entrar para os pulmões mais suavemente e o cheiro doce do amanhecer a penetrar-me pelas narinas. A voz saía-me limpa, como se tivesse injectado perpétuas roxas na sua mais pura forma para as cordas vocais. Adoro sentir-me assim, parece que nada, nem ninguém, me pode afectar. Sou deus, senhor dos meus sonhos e desilusões, faço malabarismos com vidas perdidas e destroçadas, junto laços separados que um dia pediram para ser eternos, desamarro fios de prumo presos pelo tempo, mudo o mundo com o meu piscar de olhos - mesmo que seja só na minha mente.
Levanto-me, e nada me dói, estou pronto para correr no tempo, escalar o destino, fazer bungee jumping até sentir a morte na ponta do nariz e depois ser de novo puxado para a vida pelo destender do elástico. Sinto-me capaz de enfrentar tudo o que vier, e o que não vier também. Tenho a força do mundo no meu peito e o infinito do Universo nas minhas mãos.
Sento-me no carro e nem o sinto andar, na janela vão saltando quadros pintados por uma criança de cinco anos aborrecida - até podia ser eu, se não estivessem tão bonitos. Chego à entrada de um parque, daqueles de diversões aquáticas. É divertido, vai ser giro, o dia promete. Penso eu...

Ainda é relativamente cedo, o relógio bate só agora o meio dia. Já houve dias em que acordou às 14h. Ainda não é tarde para o meu pressentimento estar certo. Para me distrair, vou ver se escorrego, pela água. Os escorregas são rápidos, fazem esquecer tudo. Atiro-me sem medos, inclinando-me o máximo que posso. Fecho os olhos e só sinto o vento a percorrer-me o corpo. Enroladas no vento vêm as tuas mãos para me acariciar e protejer, como se eu fosse um bebé. a velocidade aumenta, estou a rodopiar no escorrega, a liberdade atingiu o limite e julgo-me capaz de tudo. Está quase no fim. Sei que dentro de pouco vou ficar sem escorrega, vou cair bruscamente na fresca água, mas não me assusto, pelo contrário, fico ainda mais excitado, enquanto a velocidade aumenta ainda mais - mesmo parecendo impossível.
WOOOOOOOOOW. Splash.
gritei, caí na água. Vi tudo num só momento e um só momento englobou tudo numa só vivência.
Quero escorregar mais, é assim que vou esquecer e passar as próximas horas. Quando voltar a olhar para o telemóvel, que se tornou tão indispensável, vou ter a mensagem pela qual tanto espero.
O medo. O pânico. A tristeza. A obscuridade. A obecessão. A mentira. Os problemas. O amor. Ficou tudo pelo caminho. No interminável escorrega com fim, eterno até à ponta, para sempre que acaba num instante.

Estou com água a escorrer pelos cabelos, tenho os calções de banho molhados, eu estou molhado - e não é no sentido propriamente agradável da palavra.
Atiro-me - para a toalha - embato bruscamente na relva, e parece que as costelas partem, mas mesmo essa dor enorme se transforma em borboletas a voar, em paz. O telemóvel já veio para a minha mão. Já o pego tão automaticamente que nem dou por ele, já escrevo sem dar por isso, já vi que não tenho mensagem nenhuma, mas, não sei se sem querer ou por querer esconder a desilusão, finjo que ainda não vi. olho para o ecrã... nada - tal como eu já sabia. A realidade é que já sabia que não ia haver mensagem nenhuma, mas continuo com fé no impossível. A Impossibilidade de certas coisas acontecerem é que faz com que as pessoas as desejem.

O dia perfeito está a sofrer uma reviravolta, só dou por mim a sentir o telemovel vibrar e nunca é a mensagem esperada. Até que... sinto uma vibração especial.

"BOM DIA :D" - leio.

Estou confuso, já não sei o que vai na tua cabeça.
AFINAL... o que queres de mim?

mesmo sem saber, so porque existiu aquela vibração no telemóvel, o meu dia voltou a estar solarengo e o meu pressentimento, certo.

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