26 novembro 2010

Mr. Cellophane

Transparente.
E que mais? nada.
Não deixo pegadas no chão que piso.
Sou um corpo de alma apagada.

Translúcido. com falta de lucidez.
Passo despercebido no meio da multidão.
Verdadeiro, com falta de verdade.
Encarnação dos reais e dos que dizem que são.

Não sou vampiro mas o espelho não me mostra.
Sou real, mas o mundo não me sente.
Sou a dor de um fantasma usado,
que vive neste mundo demente.

Transparente.
E que mais? nada.
existo numa qualquer dimensão trocada.

19 novembro 2010

Thoughts of a Dying Atheist

Pensei que não precisava de mais do que o que tenho, mas sinto falta daquilo que nunca tive.
tenho a pele pálida e a alma cheia do vazio das não-vivências
tenho os cabelos sujos, cobertos dos pecados que nunca cometi.
A água magoa-me, enquanto lava o meu ser das memórias dolorosas que eu lembro nunca terem acontecido.
Tenho na cara um sorriso insensato, um sorriso falso e inconsciente que não controlo. Os dentes, com uma deplorável vontade de aparecer, mostram-se - mais brancos que nunca. - mentirosos! Não são sujos. Mas não são como se mostram. São assim assim. Com a brancura de quem nunca foi puro, mas que nunca sequer ousou sujar-se.
Ilusões de óptica. Óptica Iludida. Óptica de ilusões.

Agora percebo como a vida é efémera
e como o mundo é utópico.
Como os dias são anos e os anos são vidas. Como já ninguém perdoa um grão de areia que nos faz piscar o olho direito. ou o esquerdo. Não interessa.
Já ninguém perdoa um piscar, ninguém perdoa um segundo. Ninguém nos perdoa. e num dia - que é um ano - a nossa vida muda por um grão de areia.
E depois? mesmo quando o grão de areia já não habita a nossa retina e nós já conseguimos ver tudo novamente...parece tudo igual - só passou um segundo - mas igual numa dimensão que não conhecemos. Um igual exterior que não é reflexo de um interior que mudou. É a velocidade da visão contra a velocidade do pensamento.
Nem sempre o que vemos é crível, porque a visão não corre de mãos dadas com o pensamento. E o mundo pode estar em colapso, pode estar a cair aos pedaços, e nós vemos um mundo perfeito. Porque a visão não é verosímil. É falsa e é lenta. Facilmente manipulada.

Tenho o interior aos saltos e o meu corpo está calmo.
Isso faz de mim falso? bem... faz de mim humano.
Descobri a humanidade que não sabia que tinha.
Não sei porquê, mas isso não me deixa feliz. ou talvez saiba.

Tenho pena que a vida seja assim, e que as pessoas fujam por um grão de areia.
Ou se calhar é só de mim,
por ter grãos de areia que são pedras da calçada portuguesa.
Por ter os olhos feridos pela dor de ver aquilo que não quer ser visto, e que se esconde, por trás dos olhos daqueles que não querem - e nunca quiseram - ver.

15 novembro 2010

Lonely

O mundo continua a existir mas eu sinto-me sozinho no Universo.
Vozes, suspiros, choros, gritos... vida à minha volta. E eu aqui. Sozinho no meio de tanta gente. Preso. Acorrentado aos meus próprios pensamentos egoístas, preso a um mundo que não é vosso - e embora exista só na minha mente - não chega sequer a ser meu.
Congelado na cela do ser. Sem vontade de ser aceite. Sem vontade de aceitar.

O mundo é uma rede que me prende, uma corda que me amarra. E eu só consigo pensar em usar a faca de forma errada.

05 novembro 2010

Echoes

Ecos de nada. É ao que se resume o mundo de hoje em dia. Míseros pregadores de uma palavra sem pensamento. Cabeças Ocas. Cabeças de eco. Destruímos um mundo com potencial ao mesmo ritmo e com a mesma facilidade com que vamos destruindo as nossas vidas. Pensamos todos que estamos apenas a caminhar à beira do precipício, mas ainda não nos apercebemos que já estamos em queda livre. Descontrolados. A ouvir o eco dos gritos mudos da Natureza, de olhos vazios, a olhar o mar que nunca sentimos porque estávamos demasiado preocupados em tê-lo. É a isso que tudo se resume... A possuir. A ter. Ou pelo menos, a dizer que temos.
Queremos ter tudo, não interessa se precisamos. Basta ter. E ter.
Ecos...de risos. Sinfonias...de gritos.
És o eco do que eu quiser que sejas. O eco do mundo em mim. A reverberação que o Universo me atira. E ao mesmo tempo, não és nada. Ainda não és nada, por mais que eu queira que sejas. O futuro do meu passado, o presente do presente que ainda não chegou. E que, espero, um dia, chegar.
És o eco de um mundo de ecos. Todos somos o que somos. O pó das estrelas, a repetição do seu som e a propagação da sua luz.
Repete-te. Em mim. Quantas vezes quiseres. Usa e abusa de mim. Do meu corpo. Da minha carne impura que se desfaz sem que eu possa fazer nada. Não posso impedir algo do qual já não tenho controlo.
Ecos de risos, de choros, de gritos... o mais doloroso dos ecos do mundo inteligível. O que é este pensamento senão uma sombra, um eco, do de Platão?
Somos todos a repetição de algo que já aconteceu.
Vamos criar algo novo a partir do que já se fez.
Já aconteceu algo novo mesmo sem saberes, ainda sem sequer existires, já me fizeste sorrir. Obrigado.

Quem és? Onde estás?
estás
tás
tás
ás
ás
ás
s