20 setembro 2009

Clair de Lune

O que é que vês quando fechas os olhos?

Será que estás tão possuído pelas brumas que só vês negro? Será que a tua alma está tão poluída por ódio que já não consegues ver com os olhos fechados?
Já não és a pessoa que eu conheci, já não és o desejo contra o qual lutei, já não és o medo que eu ultrapassei, já não és a saudade que eu chorei. não és nada. És corpo, sem espectro. Moves-te friamente por entre a pedra tortuosa deste mundo. Já não és quente, os teus olhos já não têm a felicidade de antigamente, já não vês o mundo que vias. Porquê?
Já não és tu. Mudaste, e eu, permaneci igual. Permaneci estático no nosso sítio, passando ao lado dos anos que voam, conservando-me para ti. Não valeu de nada. Os teus olhos novos já não me olham, apenas me vêem. As tuas mãos novas já não me tocam, apenas me agarram. A tua pele... O que quer que seja que agora tenhas a envolver-te os músculos já não me sente, já não me preenche, nada...
Aprendi que não vale a pena esperar nada dos outros, porque por mais que se possa tentar, o tempo vai sempre passar e levar consigo as memórias da infância.

O que é que eu vejo quando fecho os olhos?
Vejo felicidade, e um desejo de viver que agora já não consigo encontrar. Vejo o abraço e o beijo que outrora explorámos, vejo o palheiro onde desabrochámos, juntos, pela primeira vez.
O que é que vejo quando abro os olhos?
Vejo no espelho alguém que não reconheço. Também já não tenho os mesmos olhos que tinha, já não tenho as mesmas mãos, nem a mesma pele... Nem a mesma idade... Por mais esforços que tenha feito, também mudei. Não sou indiferente ao tempo.

Talvez, continuemos os dois iguais, mas numa igualdade que já não combina. Talvez o tempo tenha alterado as combinações, ou talvez nós tenhamos mudado radicalmente. Não importa. O mundo é uma constante de mudança, o passado dos novos é tão curto como o futuro dos idosos, a ambição de uns equivale à experiência de outros. Talvez o nosso passado também tenha mudado, porque éramos ingénuos e pequenos, e agora, já sabemos minimamente o que é o mundo.
Quando fecho os olhos continuo a ver-nos, como éramos, há alguns anos atrás.

E tu,

Quem é que vês quando fechas os olhos?

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