19 julho 2013

All my friends

Escrevi tantos finais durante cinco anos em que nunca imaginei vir a escrever este.
Nao pensava vir a escrever com erros gramaticais a minha despedida, nao contava com despedir-me de ti.

Ainda me lembro como se fosse hoje do dia em que tive que comecar a contar-te a minha vida por aqui, para me convencer a mim mesmo que continuavas a ver-me, dai, onde quer que seja o sitio para onde foste. Nunca viste pois nao? Eu ja nao te acuso, nem me culpo.
Todos os finais tem o direito a ser respeitados, e todas as historias tristes tem de ter alguem como exemplo. Nunca fomos abalados por furacoes, nunca passamos fome, nunca vivemos um misterio aterrorizante e nenhum dos nossos pais assassinou o outro. Tivemos uma vida bastante normal ate. E no mundo perfeito - e sempre bom deixar as coisas em bem - tu so estavas doente e pensaste que os medicamentos te iam ajudar.
 - Acreditas que sao eles que agora me fazem levantar todos os dias? -

Nao sei se estou a deixar este sitio porque me apercebi finalmente que tu nao o les ou porque sei que estas comigo e sabes o que te quero dizer antes mesmo que o escreva.
Agora, no sitio onde vivo, chove praticamente todas as semanas. Ainda te lembras de mim quando isso acontece?

Nao faz sentido escrever aqui uma panoplia de epitafios para o fim deste espaco. Na verdade, tu nao tiveste tempo de me dizer nada antes de ires.

Para quem quer que ainda se interesse: A minha vida na escrita - seja ela o que for ou quiser ser - continua em PANIC ROOM . Nao existe uma estrutura, nao existe um plano. Eu nunca me dei bem com eles. E uma sala em branco que eu preciso para expirar desencantamentos.
A outra vida, essa, que a tenham ca na terra, ela ha-de desaparecer um dia de repente.

E tu, eu guardo-te comigo numa sala de panico em que nao para de chover. E em que as pocas nao tem doencas. Em que os medicamentos nao sao precisos porque as doencas nao sao transmitiveis a nos. Em que o mundo e o sitio onde vivemos, serenos e felizes. Em que nao temos mazelas emocionais de alto a baixo, e em que tudo se resume a uma gargalhada sonora a irromper o sossego de um Chaplin silencioso.

Es tudo o que eu tenho, e um pouco mais ainda daquilo que eu tinha antes.
Fica.