25 julho 2010

Arsenic On The Rocks

Quero escrever mas tudo o que escrevo me parece estúpido. Estupidifiquei. A minha existência é vulgar, não marco o passo, não tenho ritmo, não passo de mais um ser humano no metro em hora de ponta, mais uma cabecinha indistinguível no meio de tantas outras. Banal. Mas na banalidade de quem?
Não sirvo para nada, sou só ar com voz que sai da minha boca porque as palavras são as mesmas que todos dizem, sou só gestos e exagerados escândalos porque o motivo, é o mesmo pelo qual todos exagerariam. Sou só mais uma fotocópia do mundo, num tamanho mais pequeno. Uma fotografia tipo passe, com quatro pelo preço de uma. É provável que já tenham visto alguém que pensaram ser eu, afinal, há tantos eu's espalhados por aí.
Sorrio da mesma maneira, choro da mesma maneira, já nem escrever minimamente consigo. Alguém acha que este texto está coerente? Sou uma pedra numa calçada, sou uma árvore numa floresta. Sou o ciclista no pelotão. Não tenho mais nada para mostrar nem para dar. Sou uma desilusão, tal como todos os seres-humanos, tal como o mundo.
Sou tão vazio, tão oco. Falta-me...
Sou o esgotado, a criatividade morta, a personalidade assassinada, a personificação do plágio, sou a arte apagada, o medo artístico, a verdade copiada. Sou eu. Sou tu. Sou o mundo. Uma marioneta. Um soldadinho. Apenas mais um entrave na máquina homicida.
Sou um quase, sou um nada. Sou feito de sonhos e faço pesadelos.
Sou a existência do desistir, e a desistência do existir.
Sou a indiferença. Sou o tanto faz.

E quando acabarem de ler isto? Vão suspirar... e vão ler mais outro texto qualquer com base no mesmo. Sou só mais alguém que escreve a reclamar com a vida e com o mundo, sou só mais um.
Mais um que diz que a vida é uma merda. Mais um que diz que queria morrer.

Só mais um.
Sem coragem para fazer o que quer.
e agora?
o mundo continua o mesmo e eu continuo aqui.
Continuamos todos aqui a viver sem querer, e a querer sem viver.

20 julho 2010

Blessed be the tie that binds

"É isso que é estar vivo. Vaguear perdido numa nuvem de ignorância; andar de um lado para o outro a estilhaçar os sentimentos daqueles... daqueles que estão ao nosso lado. Gastar o tempo como se tivéssemos milhões de anos à nossa frente. Estar sempre à mercê de uma ou outra vontade egoísta. Agora já sabes - é essa a feliz existência para onde querias voltar. Ignorância e cegueira."


"Anda tão depressa. Não temos tempo de olhar uns para os outros. Eu não percebia. Tudo o que se passou e que não reparámos."


"O dia está exausto como um relógio cansado."


A Nossa Cidade, Thornthon Wilder
[Teatro Experimental de Cascais, Seg. a Sab. 21h/Dom. 16 e 21h, até 1 de Agosto]

07 julho 2010

Hidden Track

hoje queria dizer tanta coisa aqui. Mas escrever as coisas torna-as verdades e eu continuo o cobarde que vive na mentira. Continuo a escrever-te como te quero e não como és. continuo a escrever o que quero ser contigo, e não o que somos - e seremos - sozinhos.
continuo a utilizar um sujeito que não existe, que é omisso, e a adjectiva-lo falsamente, para me enganar. Escrevo mentiras que quero que sejam verdades.

Continuo a utilizar o plural, em frases onde apenas existem dois sujeitos singulares.

Não quero escrever. com tanta força como aquela que digo que quero sorrir.

05 julho 2010

Apple's and Banana's

Era uma vez uma maçã
que de bonita era chamada,
uma maçã bem vermelha,
e ainda por ser trincada.

Era tão perfeita,
por todos tão desejada,
aquela maçã vermelha
e ainda por ser trincada.

Por mim ela foi comprada,
e foi bem saboreada,
aquela maçã vermelha
que de virgem não tinha nada.

Uma trinca. Ai que bom,
e a outra por ali ficou.
uma maçã tão vermelha
que o sabor me enganou.

Depois de mim, foram os outros
a quem ela se ofereceu.
Aquela maçã tão vermelha
que tem um pedaço meu.

A primeira dentada era perfeita
mas mais nenhuma ela deixava,
porque guardava o seu sabor
para os outros a quem se dava.

Acabou sozinha, a coitada.
Apelidada de porca,
embora entre cada trinca
ela fosse bem lavada.

E assim se transformou
a maçã tão desejada,
que por tudo querer de todos,
acabou sem comer nada.

04 julho 2010

Tonight

Eu pedi para parares e tu continuaste sem cessar. Pedi-te só um momento, para respirar, para pensar, para perceber, para esquecer. Não. Negaste-me tudo aquilo a que, embora não tenha direito, eu podia recorrer em último caso. Negaste-me a vida. Só porque não podes parar. Só porque tens horários a cumprir, como todos nós. PÁRA. PARA QUÊ?
A escada continua igual, e eu continuo a poder subi-las, todos os dias, contigo e sem ti. Deixa-me parar no próximo andar. Por favor, preciso de inspirar calmamente, contigo tudo parece tão inseguro. Para. Por favor. Parem o mundo, quero sair.


Adeus meu amante desconhecido,
que eu conheço às vezes,
às vezes,
quando vivo.

Adeus Mundo!

01 julho 2010

Canção da Canção da Lua

O que queres que diga mais?
Já perdemos todas as palavras.
Já marcámos as paredes de nós.
As ruas sussurram os nossos nomes.
Os candeeiros explodem com a nossa luz.
os sinais, o vento, as buzinas.
Só mais uma típica rua da metrópole
coberta de vultos e vozes,
onde eu só distingo o teu timbre.
Cada pedra da calçada portuguesa,
cada átomo do ar mundial,
a pressa de correr para chegar a lado nenhum,
onde não interessa,
onde não queremos estar.

E a rua... será que continua igual?
ou está diferente do que fomos?

Será que vamos passar naquele mesmo sítio sem nos lembrarmos do que nos levou até ali?

Em todas as ruas te encontro,
em todas as tuas te perco.

e agora?

Não quero o futuro, quero o presente que vem depois.


Fez um ano desde a primeira vez que escrevi neste blog e nem me lembrei... é a importância que dou ao tempo, aquele tempo, enquanto a rua está escura.