30 novembro 2011

Life in a glass house

Uma parte de mim,
adormecida, a doer,
desperta toda a alegria
que tento esquecer.

De verdade, inesgotável
é o querer
como algo que me chama,
a rir, para o sofrer.

Sentimento que pensa a chorar,
sonho de ter e não pensar.
Pensamento de sentir
sem qualquer vestígio de ruir.

O ser que é e não se mexe,
sentimento que dói mas não desce.
A vontade de ter e de sentir
conjugada com a procura do sorrir.

Uma procura que dói.
Uma verdade que mente,
sentida por alguém que vê
o que outro alguém não sente.

27 novembro 2011

London London

se vais tentar, vai com tudo
senão, nem sequer comeces.
se vais tentar, vai com tudo.
isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos
e talvez a tua cabeça.

vai com tudo.
isso pode significar ficar sem comer durante 3 ou 4 dias.
pode significar passar frio num banco de praça
pode significar cadeia, escárnio, insultos, isolamento.
o isolamento é a dádiva maior
tudo o resto é um teste da tua resistência
de quanto realmente queres fazê-lo.
e vais fazê-lo.
apesar da rejeição e dos piores infortúnios
e isso será melhor do que qualquer coisa
que possas imaginar.

se vais tentar, vai com tudo.
não há outro sentimento como esse.
ficarás sozinho com os deuses
e as noites inundar-se-ão de fogo.
fá-lo, fá-lo, fá-lo.
por todos os caminhos, por todos os caminhos.
cavalgarás a vida directamente até à gargalhada perfeita.
é essa a única luta decente que existe.

Charles Bukowski

26 novembro 2011

Lacrymosa

Olá e adeus.

Sorris? Duvidas.

Eu já não duvido, e já não sorriu como sorria. Porque o para ti deixou de ser para ti da forma que era antes, e as más interpretações e as intuições deram lugar a uma técnica fria que me repulsa por atracção.
É um adeus e um olá. É a prova de que as minhas prioridades não estão nem nunca estiveram trocadas, e o meu erro é pensar que sim e tentar alterar as coisas. Nada se coloca no meu caminho, só a minha sede de vida, porque da impaciência surgem todos os erros letais que cometi, e é isso que me faz afundar aos poucos e cada vez mais.
Eu quero voar e no entanto o fundo do oceano sente-me cada vez mais perto. Porque eu nado para lá de vez em quando, com mais força do que aquela que me afasta dele normalmente. Não sou propício a sentimentos de naturezas descontroláveis. Eu gosto de amar. Mas como regulador, também amo odiar. E é isso que faço, é isso que vivo e a maneira como me caracterizo. São os opostos que vivem dentro de mim e vivem os dois soltos num mesmo corpo incapaz de achar um balanço.
Por isso eu vou, de um lado para o outro, como manda a maré ou a estação do ano. Numa eterna Primavera coberta de neve, que me faz odiar a forma como julgo que te amo.
Mas que amo só porque fazes parte do sonho que quero cumprir e da etapa que anseio viver para lá chegar.
Amo-te como a um banco que me ajuda a chegar às prateleiras do topo.

Adeus gélida esperança de alcançar o estado perfeito, aquele de comunhão de corpos e almas que nos liga para sempre.
Olá alegria de saber que provenho do sítio onde quero estar, que nasci no meio das páginas em branco que alguém preencheu com diálogos, e fui gerado no meio dos destroços que acolhiam fantasmas em corpos. E que viverei, um dia, no mundo onde pertenço e onde sempre estive.

Se isto é fingir finjo mais do que vivo, mas se isto é sentir eu sinto o mundo em mim e fora e onde quer que ele esteja, porque as tábuas não me limitam e só me fazem sonhar mais alto.

As etapas foram feitas para ser ultrapassadas, e as pessoas ligam-se porque estão destinadas a ajudar-se.
És a minha ajuda e o meu apoio. O ferro que fortifica as minhas prioridades acertadas e faz cair por terra o sonho de tentar fugir delas.
Por mais que doa e eu possa por vezes não querer, estou aqui dentro, e o preço a pagar por não estar seria não viver.
Por trás da dor, fico feliz que tenha sido assim.
Obrigado.
adeus e olá.

23 novembro 2011

Our spring will come

Um dia todos os dias vão ser dias e o presente o tempo que ansiaremos recordar. Tudo o que falha cresce de alguma forma, dentro de nós, como um correcto de um dia futuro. A procura de algo melhor é o que nos acompanha, mas de forma alguma pode ser aquilo que nos separa do agora. Estar de mãos dadas com o futuro não é sinónimo de estar de costas voltadas ao presente.
É isto que tenho que manter presente na minha mente. Que o agora importa por ser agora e por mais razão nenhuma. Um dia vai deixar marca porque aconteceu. Nem que seja para recordar um corpo qualquer sem alma que me cruzou.
A única dúvida que resta, a maior, e que leva a minha cabeça à auto-mutilação, é se o futuro vai ser como eu o penso, e se vou pensar neste passado como o passado nostálgico que me levou até onde irei estar... Ou se vou estar num sítio tão diferente do imaginado que nem me vou lembrar do que julgava ir ser.
Respostas? Estão naquele tempo que eu anseio alcançar, escondido por detrás desta bruma que eu sinto impossível de ultrapassar. Rimei, absolutamente por acaso. Aliás por acaso tem sido provavelmente a única razão porque me encontro a viver.

o ser humano embarca sempre numa eterna busca pela felicidade.
enquanto ela se esconde no tempo a que chamamos futuro, que vem sempre depois daquele que estamos a viver.

14 novembro 2011

Dear Heart

Se eu antes não estava preparado não é agora que estou. Ao contrário do que dizem, por mais golpes que levemos, não nos tornamos mais fortes. É só uma dor, no peito, tão quente e adormecedora como a primeira que se repete. uma e outra vez.
Adeus. é isto que se diz? eu não sei, e há uma parte inteira de mim que não quer saber. o que se diz ou não se diz, tanto quanto não quer ter de pensar. É demais. É injusto que nos façam isto, e pedirem de ti o que pedem.
Se antes eu queria brincar na careca e fingir que fazia crescer cabelo... Agora não quero ter a necessidade de o imaginar. É uma cura que deixa à vista o que se passa, e que por mais que tentemos não nos deixa esquecer.
Eu posso dizer que te amo e que é a ti que devo a minha vida. Porque por mais inútil, imbecil e ignóbil que eu possa ter sido para ti, nunca foi de verdade. É a estupidez do crescimento humano - mal-agradecido e injusto.
Quero ter mais mil anos para te pedir desculpa e para que tu vejas o que a tua influência produziu em mim. Porque por mais que eu diga que não me importo...é mentira.
Se te devo tudo, devo principalmente recompensar-te por sempre me teres dado o que tinhas e não tinhas e te teres posto em segundo plano para me deixares ser quem sou. Me teres tirado as palas dos olhos e me teres feito ver um mundo que me preenche e eu não conhecia. Não somos todos iguais e eu conheço as culturas, raças, ideologias e mentalidades diferentes por alguém me ter dito que a vida é criar o nosso próprio caminho e não seguir aquele que os outros já calcaram.
O fogo da primeira vez é o mais aliciante... foi assim que descobri o que o Gedeão queria dizer com "Desflorar florestas virgens".
Se tenho uma estante com livros - já alguns tendo em conta a minha longevidade - é porque um dia alguém me ensinou que para livros há sempre dinheiro. Porque cultura é vida e nós devemos viver e não sobreviver.
Que guardar é ter esperança numa eternidade que não vem, e por isso, não devemos - mesmo - deixar para amanhã o que sentimos e queremos fazer hoje. Eu não fiz, nem por sombras, metade do que queria fazer contigo. e é isso que dói.
É todos os dias acrescentar coisas à lista de afazeres a dois e lembrar-me que mais dia menos dia podemos ser só um.
És a força que me calhou, e eu tenho a melhor sorte do mundo por isso. A força, a determinação, a luta e a revolta no meu coração pertencem-te e vivem aqui no meu peito juntamente contigo, a bombear o meu sangue pelo meu corpo.
O meu medo é que, em mim, seja a única morada tua neste mundo que chamamos real.
Não vas.
nunca.
A minha porta aberta ao mundo está prestes a trancar.