27 setembro 2009

Mundo ao contrário .


ao lado da bancada da cerveja, perto dos caixotes, onde está a mulher de casaco vermelho a fumar...

20 setembro 2009

Clair de Lune

O que é que vês quando fechas os olhos?

Será que estás tão possuído pelas brumas que só vês negro? Será que a tua alma está tão poluída por ódio que já não consegues ver com os olhos fechados?
Já não és a pessoa que eu conheci, já não és o desejo contra o qual lutei, já não és o medo que eu ultrapassei, já não és a saudade que eu chorei. não és nada. És corpo, sem espectro. Moves-te friamente por entre a pedra tortuosa deste mundo. Já não és quente, os teus olhos já não têm a felicidade de antigamente, já não vês o mundo que vias. Porquê?
Já não és tu. Mudaste, e eu, permaneci igual. Permaneci estático no nosso sítio, passando ao lado dos anos que voam, conservando-me para ti. Não valeu de nada. Os teus olhos novos já não me olham, apenas me vêem. As tuas mãos novas já não me tocam, apenas me agarram. A tua pele... O que quer que seja que agora tenhas a envolver-te os músculos já não me sente, já não me preenche, nada...
Aprendi que não vale a pena esperar nada dos outros, porque por mais que se possa tentar, o tempo vai sempre passar e levar consigo as memórias da infância.

O que é que eu vejo quando fecho os olhos?
Vejo felicidade, e um desejo de viver que agora já não consigo encontrar. Vejo o abraço e o beijo que outrora explorámos, vejo o palheiro onde desabrochámos, juntos, pela primeira vez.
O que é que vejo quando abro os olhos?
Vejo no espelho alguém que não reconheço. Também já não tenho os mesmos olhos que tinha, já não tenho as mesmas mãos, nem a mesma pele... Nem a mesma idade... Por mais esforços que tenha feito, também mudei. Não sou indiferente ao tempo.

Talvez, continuemos os dois iguais, mas numa igualdade que já não combina. Talvez o tempo tenha alterado as combinações, ou talvez nós tenhamos mudado radicalmente. Não importa. O mundo é uma constante de mudança, o passado dos novos é tão curto como o futuro dos idosos, a ambição de uns equivale à experiência de outros. Talvez o nosso passado também tenha mudado, porque éramos ingénuos e pequenos, e agora, já sabemos minimamente o que é o mundo.
Quando fecho os olhos continuo a ver-nos, como éramos, há alguns anos atrás.

E tu,

Quem é que vês quando fechas os olhos?

16 setembro 2009

Imagine

És o meu amor... assim pudesses tu saber quem és...

Amo-te. Com tanta força quanto aquela como me lembro da memória que deixaste antes de apareceres. Decorei os teus gestos antes de os fazeres. Sei de cor as coisas que um dia me vais dizer. Lembro-me da tua pele suave em que um dia vou tocar, da tua voz de mel que um dia vou ouvir, dos teus pensamentos que um dia vais partilhar comigo. Lembro-me de todas as coisas que faremos juntos. Recordo-me de ti, no meu futuro. Tenho as fotografias ainda não reveladas de ti, na minha vida.

Ainda não apareceste, és o sol que vai dar luz à minha vida, mas ainda não chegaste até mim. Vais ser a minha estrela guia, e o meu chão que não me vai deixar cair para o submundo.

Vais ter tudo de mim, e eu vou ter tudo de ti, um dia. Um dia no futuro, que eu já sei de cor.

Já consegui entender a perfeição do nosso amor, antes mesmo de ele existir. Já sei o que o meu coração vai sentir, antes mesmo de te ver.

Não sei quem és, mas sei o que serás para mim. Nunca vi a tua face, nunca ouvi a tua voz, mas eu sei que gosto delas.

Nunca olhei nos teus olhos, nunca ouvi as tuas mentiras... mas sei que tas perdoarei.

Já sei tudo. A maneira como te vou tocar, como te vou amar, como te vou abraçar, e como vamos ser, um dia.

Amo-te, e amar-te-ei um dia, quando te conhecer. És o sonho de qualquer pessoa, és o mundo que um dia vai estar debaixo da minha asa, protegido pela minha paixão.

[a única coisa que não sei, de todo, é porque é que tudo isto não pode ser verdade...]

13 setembro 2009

The Story

Os teus olhos já não me olham.
Os meus olhos já não te vêem.
És o passado do meu futuro, que chega também a ser presente. És tudo, como sempre foste, e sempre serás. És o mundo que repousava na palma das minhas mãos, és a música que toca em todo o lado, és a paisagem para onde olho, és a razão pela qual sou como sou.
Ensinaste-me que a vida não é eterna, e que o fim pode já ser amanhã. Ensinaste-me a seguir os meus sonhos para vencer o efémero. A ser quem sou, a não fingir, mesmo quando todos o fazem - até tu.

Ainda não te perdoei.

As tuas mãos já não me tocam.
As minhas mãos já não te sentem.
És um sonho que eu perdi, és a infância que me roubaram, és o pedaço de nada das minhas recordações, és a memória vivida e a prova de que um dia eu existi. A tua música continua a tocar através das paredes, a tua voz ainda faz eco nos meus ouvidos, os meus cabelos ainda têm o teu cheiro. Continua tudo igual, as cores continuam no mesmo sítio, a Terra ainda gira em torno do sol, o céu ainda é azul...pelo menos é o que dizem, desde que me deixaste, eu só vejo cinzento...

Ainda não te perdoei.

O teu corpo já não está presente.
Tu já não estás presente.
Fugiste. Foste o maior cobarde. Igual àqueles que sempre criticaste. Deixaste-me sozinho no meio dos zombies. Agora com quem é que vou chorar a ver o Eduardo Mãos-de-Tesoura? Agora com quem é que me vou rir a ver as curtas do grande Chaplin? Agora com quem é que vou ler poemas? Agora com quem é que vou ouvir Evanescence até ouvirmos os gritos da tua mãe? Falando mesmo a sério... já nem consigo ouvir Evanescence. cada música. cada acorde. é uma memória tua solta na minha imaginação, a embater violentamente nos recantos vazios deixados pela ausência de felicidade.
COM QUEM É QUE VOU GRITAR QUANDO NÃO ME CONFORMO COM O MUNDO?
QUEM?

Ainda não te perdoei.

E não sei se algum dia o vou conseguir fazer. Abandonaste-me sem um adeus. Não me deixaste ajudar-te, tentar curar-te. Desistis-te. De ti. De mim. De nós. Desistis-te do que era mais sagrado para mim e para ti. Desistis-te sem hesitar do que nos unia. A desculpa, era que me amavas e não podias... quem é que se importa com o que podes ou não? eu também te amava, e supostamente também não podia. e depois? continuo aqui. Podias também continuar. Podias ter sido uma das pessoas a dizer "Parabéns" quando dei um passo em frente para cumprir o meu sonho. Podias ter sido uma das pessoas a abraçar-me quando as más notícias chegaram. Mas não. Eu era tão importante que decidiste abandonar-me. Eu não consigo fazer o mesmo...

Ainda não te perdoei.
Nunca te vou perdoar.

no entanto, continuas a voar comigo, a tua alma uniu-se à minha. sinto-te comigo sempre... Talvez te tenhas arrependido do que fizeste, mas é tarde demais. E mesmo sentindo-te comigo, estou só. Não te tenho para me aparares as quedas, para me refugiar no teu abraço, para me dares a mão.

AINDA NÃO ME DISSESTE COM QUEM VOU FAZER TUDO O QUE FAZÍAMOS.

Porque tudo o que dizem de que depois de alguém próximo morrer, ficar conosco o espírito e nem sentimos a sua falta, é treta. Talvez fique, isso acredito, porque te sinto aqui. Mas de que é que isso me serve?

Preferia não te sentir, do que sentir-te incompleto.

Estás aí, mas é como se não estivesses...
Os teus olhos já não me olham.
Os meus olhos já não te vêem.
As tuas mãos já não me tocam.
As minhas mãos já não te sentem.

NUNCA TE VOU PERDOAR.

agora, não passas de uma história para eu contar aos netos. Preferia que fosses a alma-gémea para eu colar ao peito.

[amo-te, tão intensamente que sou incapaz de desistir de ti, quando ti próprio desistis-te de nós]

06 setembro 2009

Falling Down

A partir daquela mensagem, só me senti foi cair. Afinal, não era aquilo que eu queria. As viagens no escorrega que terminou eram brutas e violentas, as voltas tenebrosas metiam-me em pânico. Já não quero mais disto. Já não sei o que quero. é como sempre pensei. as coisas que acontecem, deixam rapidamente de ser algo que desejamos. mas eu desejo-te. ou não?
Quero sair daqui, quero o calor da minha casa. Ou o calor do teu sofá por baixo do nosso abraço? o teu calor junto com o meu, formando o calor de um verão em que a maior parte dos dias foi de frio. quero-te.
O telefone toca, és tu. Não o tu que me mandou a mensagem que eu esperava. Mas o tu, que não me disse nada o dia todo, o tu que diz que me ama. A conversa corre mal. Tu estás a chorar mas eu não consigo. a Metade do dia que supostamente seria perfeito está estragada. Porque é que não me custa ouvir e concordar contigo? Porque é que não me custa quando decidimos mútuamente que é melhor acabar? há momentos, mas só mesmo por momentos, pensei que te amava. Para onde foi esse amor? Tenho tanto amor para dar e ninguém para o receber, só querem o pau, mas eu, não sou nenhuma vassoura. Talvez seja um bocadinho, mas sou Villeda. (h)
Acabou-se tudo, só agora, horas depois, é que percebi isto. Esta semana foi intensa, e claro que vou sentir a tua falta, mas é melhor assim. Sinto-me estranho, não porque acabamos, mas porque sinto que tenho amor a mais. A sair pelas entranhas do meu corpo. Espirro amor, respiro amor. Muito amor. Amor demais, que lamechas.

O amor é fogo que arde sem se ver. eu, morri queimado, mas toda a gente viu o meu corpo a ficar cinza. - será que isso significa que não te amo?

Uprising

Acordei com um pressentimento positivo, sentia o ar a entrar para os pulmões mais suavemente e o cheiro doce do amanhecer a penetrar-me pelas narinas. A voz saía-me limpa, como se tivesse injectado perpétuas roxas na sua mais pura forma para as cordas vocais. Adoro sentir-me assim, parece que nada, nem ninguém, me pode afectar. Sou deus, senhor dos meus sonhos e desilusões, faço malabarismos com vidas perdidas e destroçadas, junto laços separados que um dia pediram para ser eternos, desamarro fios de prumo presos pelo tempo, mudo o mundo com o meu piscar de olhos - mesmo que seja só na minha mente.
Levanto-me, e nada me dói, estou pronto para correr no tempo, escalar o destino, fazer bungee jumping até sentir a morte na ponta do nariz e depois ser de novo puxado para a vida pelo destender do elástico. Sinto-me capaz de enfrentar tudo o que vier, e o que não vier também. Tenho a força do mundo no meu peito e o infinito do Universo nas minhas mãos.
Sento-me no carro e nem o sinto andar, na janela vão saltando quadros pintados por uma criança de cinco anos aborrecida - até podia ser eu, se não estivessem tão bonitos. Chego à entrada de um parque, daqueles de diversões aquáticas. É divertido, vai ser giro, o dia promete. Penso eu...

Ainda é relativamente cedo, o relógio bate só agora o meio dia. Já houve dias em que acordou às 14h. Ainda não é tarde para o meu pressentimento estar certo. Para me distrair, vou ver se escorrego, pela água. Os escorregas são rápidos, fazem esquecer tudo. Atiro-me sem medos, inclinando-me o máximo que posso. Fecho os olhos e só sinto o vento a percorrer-me o corpo. Enroladas no vento vêm as tuas mãos para me acariciar e protejer, como se eu fosse um bebé. a velocidade aumenta, estou a rodopiar no escorrega, a liberdade atingiu o limite e julgo-me capaz de tudo. Está quase no fim. Sei que dentro de pouco vou ficar sem escorrega, vou cair bruscamente na fresca água, mas não me assusto, pelo contrário, fico ainda mais excitado, enquanto a velocidade aumenta ainda mais - mesmo parecendo impossível.
WOOOOOOOOOW. Splash.
gritei, caí na água. Vi tudo num só momento e um só momento englobou tudo numa só vivência.
Quero escorregar mais, é assim que vou esquecer e passar as próximas horas. Quando voltar a olhar para o telemóvel, que se tornou tão indispensável, vou ter a mensagem pela qual tanto espero.
O medo. O pânico. A tristeza. A obscuridade. A obecessão. A mentira. Os problemas. O amor. Ficou tudo pelo caminho. No interminável escorrega com fim, eterno até à ponta, para sempre que acaba num instante.

Estou com água a escorrer pelos cabelos, tenho os calções de banho molhados, eu estou molhado - e não é no sentido propriamente agradável da palavra.
Atiro-me - para a toalha - embato bruscamente na relva, e parece que as costelas partem, mas mesmo essa dor enorme se transforma em borboletas a voar, em paz. O telemóvel já veio para a minha mão. Já o pego tão automaticamente que nem dou por ele, já escrevo sem dar por isso, já vi que não tenho mensagem nenhuma, mas, não sei se sem querer ou por querer esconder a desilusão, finjo que ainda não vi. olho para o ecrã... nada - tal como eu já sabia. A realidade é que já sabia que não ia haver mensagem nenhuma, mas continuo com fé no impossível. A Impossibilidade de certas coisas acontecerem é que faz com que as pessoas as desejem.

O dia perfeito está a sofrer uma reviravolta, só dou por mim a sentir o telemovel vibrar e nunca é a mensagem esperada. Até que... sinto uma vibração especial.

"BOM DIA :D" - leio.

Estou confuso, já não sei o que vai na tua cabeça.
AFINAL... o que queres de mim?

mesmo sem saber, so porque existiu aquela vibração no telemóvel, o meu dia voltou a estar solarengo e o meu pressentimento, certo.