13 setembro 2009

The Story

Os teus olhos já não me olham.
Os meus olhos já não te vêem.
És o passado do meu futuro, que chega também a ser presente. És tudo, como sempre foste, e sempre serás. És o mundo que repousava na palma das minhas mãos, és a música que toca em todo o lado, és a paisagem para onde olho, és a razão pela qual sou como sou.
Ensinaste-me que a vida não é eterna, e que o fim pode já ser amanhã. Ensinaste-me a seguir os meus sonhos para vencer o efémero. A ser quem sou, a não fingir, mesmo quando todos o fazem - até tu.

Ainda não te perdoei.

As tuas mãos já não me tocam.
As minhas mãos já não te sentem.
És um sonho que eu perdi, és a infância que me roubaram, és o pedaço de nada das minhas recordações, és a memória vivida e a prova de que um dia eu existi. A tua música continua a tocar através das paredes, a tua voz ainda faz eco nos meus ouvidos, os meus cabelos ainda têm o teu cheiro. Continua tudo igual, as cores continuam no mesmo sítio, a Terra ainda gira em torno do sol, o céu ainda é azul...pelo menos é o que dizem, desde que me deixaste, eu só vejo cinzento...

Ainda não te perdoei.

O teu corpo já não está presente.
Tu já não estás presente.
Fugiste. Foste o maior cobarde. Igual àqueles que sempre criticaste. Deixaste-me sozinho no meio dos zombies. Agora com quem é que vou chorar a ver o Eduardo Mãos-de-Tesoura? Agora com quem é que me vou rir a ver as curtas do grande Chaplin? Agora com quem é que vou ler poemas? Agora com quem é que vou ouvir Evanescence até ouvirmos os gritos da tua mãe? Falando mesmo a sério... já nem consigo ouvir Evanescence. cada música. cada acorde. é uma memória tua solta na minha imaginação, a embater violentamente nos recantos vazios deixados pela ausência de felicidade.
COM QUEM É QUE VOU GRITAR QUANDO NÃO ME CONFORMO COM O MUNDO?
QUEM?

Ainda não te perdoei.

E não sei se algum dia o vou conseguir fazer. Abandonaste-me sem um adeus. Não me deixaste ajudar-te, tentar curar-te. Desistis-te. De ti. De mim. De nós. Desistis-te do que era mais sagrado para mim e para ti. Desistis-te sem hesitar do que nos unia. A desculpa, era que me amavas e não podias... quem é que se importa com o que podes ou não? eu também te amava, e supostamente também não podia. e depois? continuo aqui. Podias também continuar. Podias ter sido uma das pessoas a dizer "Parabéns" quando dei um passo em frente para cumprir o meu sonho. Podias ter sido uma das pessoas a abraçar-me quando as más notícias chegaram. Mas não. Eu era tão importante que decidiste abandonar-me. Eu não consigo fazer o mesmo...

Ainda não te perdoei.
Nunca te vou perdoar.

no entanto, continuas a voar comigo, a tua alma uniu-se à minha. sinto-te comigo sempre... Talvez te tenhas arrependido do que fizeste, mas é tarde demais. E mesmo sentindo-te comigo, estou só. Não te tenho para me aparares as quedas, para me refugiar no teu abraço, para me dares a mão.

AINDA NÃO ME DISSESTE COM QUEM VOU FAZER TUDO O QUE FAZÍAMOS.

Porque tudo o que dizem de que depois de alguém próximo morrer, ficar conosco o espírito e nem sentimos a sua falta, é treta. Talvez fique, isso acredito, porque te sinto aqui. Mas de que é que isso me serve?

Preferia não te sentir, do que sentir-te incompleto.

Estás aí, mas é como se não estivesses...
Os teus olhos já não me olham.
Os meus olhos já não te vêem.
As tuas mãos já não me tocam.
As minhas mãos já não te sentem.

NUNCA TE VOU PERDOAR.

agora, não passas de uma história para eu contar aos netos. Preferia que fosses a alma-gémea para eu colar ao peito.

[amo-te, tão intensamente que sou incapaz de desistir de ti, quando ti próprio desistis-te de nós]

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