22 junho 2010

Capitão Romance

Sou capitão do meu barco
de piratas e de salvadores
Capitão do mar e do céu,
da terra, mundo e arredores.
Capitão de vontades e desejos,
de tristezas, formigas, moscas
e percevejos.
Capitão das casas e das ruas,
das aldeias e das cidades.
Capitão de formas, matérias,
estruturas e gruas, capitão de
reformas, ordenados, impostos
e pagamentos adiantados
(ou atrasados).
Capitão da verdade e da mentira,
da mente e do corpo, da beleza,
do amor, do cinismo, do medo
e da obscuridade.
Capitão das faltas, morais, amizades,
das falsidades e da sinceridade.
Capitão dos sonhos sonhados
dos sonhos vividos
das vivências sonhadas. Das
memórias, dos relógios, ponteiros,
do tempo. (De um tempo que não é meu
e que ao mesmo tempo, sendo nosso,
acaba por não ser de ninguém.)
Sou Capitão do meu barco enorme que não possuo.
Capitão da humanidade
dos animais,
das vacas mimosa
das vacas de quatro patas
das vacas de duas patas que falam
das vacas que gostam de vacas
daquelas que riem
e daquelas que seduzem os bois.
Sou capitão das vacas porque sou uma vaca
uma vaca que muge tudo o que pensa e que
por isso
é má-mugidora.

Sou capitão.
Capitão dos capitães
e daqueles que um dia o serão.
Capitão da palma da minha mão,
capitão do que digo, do que escrevo
do que penso.
Capitão da minha mente,
mente essa que possui um mundo,
no qual vivo,
e no qual sou Capitão.
Capitão de tudo o que lá exista.
E escrevo tudo aqui neste espaço,
porque é o meu, porque sou capitão.
Sou capitão do Romance,
do verso

branco
e das palavras,
embora ninguém acredite no que elas são.
A vida e a morte são minhas servas,
por isso, façam continência ao Capitão!
Não que elas o sejam mesmo,
mas só porque eu digo que o são.

Leste isto também,
embora não sejas meu subordinado
(nem eu teu Capitão)
Porque o primeiro passo para se ser alguma coisa,
é ter vontade
lutar
e acreditar
que se o é na realidade...

E este é o Conselho de quem se julga Capitão
de um mundo onde os mortos também sonharão.


15 junho 2010

Clocks


Todos os dias passam, acontecem, deixam a sua marca num tempo que não é seu e numa vida desacelerada, perdida no nosso pequeno e solitário mundo intemporal. Queremos um relógio gigante com ponteiros minúsculos, ansiamos pelos controlos para atrasar, adiantar ou fazer uma pequena pausa no nosso relógio vivido. Perdemos a completa noção do nosso caminho e do trilho a seguir, os ponteiros do relógio são a nossa bússola e as horas o nosso norte. Contamos estupidamente o tempo com medo de ficar sem ele, com medo que o relógio pare sem darmos por isso, mas para que nos serve saber que horas são, se nunca vamos saber quantas horas realmente temos?
As horas, os dias, a vida, passa tão rápido que não temos tempo de a apreciar nem de ver nada verdadeiramente. Desperdiçamos a vida, e os nossos tão preciosos dias, a localizar-nos temporalmente num mundo sem compasso definido. E no final? E quando as horas se intemporalizam? Pedimos mais... Porque, aparentemente, não tivemos tempo suficiente.
Só percebemos que o mundo é grande quando saímos dos nossos ponteiros, e só conseguimos desviar a atenção deles quando estão cansados de mais e param. Queremos tanto viver que reduzimos o nosso ângulo de visão, absorvemos todos os pormenores de dois pequenos ponteiros maestros, e o resto do mundo fica para depois. Adiamos sempre qualquer coisa. Quantas horas de vida já perdemos ao adiar o despertador dez minutos para dormir mais um pouco? No final vamos queixar-nos que tivemos pouco tempo para ver o mundo, porque tínhamos os olhos encarcerados na nossa preguiça.
Quanto tempo já perdemos em greves, no quotidiano excessivamente demorado porque "o próximo comboio também dá", em conversas de circunstância, em sorrisos falsos de aparência, em leitura de contentor ou em escrita impressa em euros? Quanto tempo já perdemos a pensar em vez de viver? A calcular se temos tempo para fazer alguma coisa, em vez de a fazer logo? E o mundo volta a ficar para depois.
Quantas são as pessoas que durante toda a vida planeiam uma viagem pelo mundo? Quantas são as que a fazem?
Os euros fazem andar os nossos ponteiros, os nossos ponteiros funcionam em relógios, e os nossos relógios marcam passo para o final do nosso tempo - e nós vamos deixando o mundo para depois, na esperança de poder adiar o relógio mais dez minutos: para mais um bocejo, mais um livro da Margarida Rebelo Pinto, ou para apanharmos um metro menos cheio (de certo modo, na nossa derradeira viagem temos o direito de ir confortáveis).
(In)felizmente, o tempo não para, o relógio não se atrasa e os ponteiros não esperam por nós. Não temos tempo de olhar uns para os outros, porque mantemos a ponta-seca em nós e a circunferência é desenhada à nossa volta e não à volta da vida.

Um dia vamos ter todo o tempo do mundo para reclamar que não tivemos tempo suficiente enquanto podíamos e vamos perceber que o tempo estava lá, e que sempre esteve, mas que nós estávamos demasiado cegos com medo de não o ter.

O tempo passa, os ponteiros avançam, as horas desvanecem o sorriso, e nós vamos esperando - de olhos presos no enlouquecedor ritmo - que o relógio esteja certo... sem nunca termos coragem para o acertar.

07 junho 2010

Cigarette Smoke

És o meu desejo virado ao contrário. Estás a correr em contra mão num mundo que anda todo ao mesmo passo e na mesma direcção. Uns atrás dos outros, eles vão passando nas minhas mãos e deixando a sua marca, o seu sabor. Fumo. Os cigarros. Devoradores da morte encoberta, sugadores da vida e do sorriso.
Sinto o teu hálito na minha boca. Trava. Deito-o fora. É um ritual. O meu ritual vergonhoso, a minha sede embaraçosa da qual não quero nunca ser descoberto. Eu puxo-te para dentro de mim, travo-te no meu peito e só Deus (se realmente existir) saberá como me sinto ao ter-te preso aqui... bem perto do meu coração. Depois expiro as nossas diferenças, os nossos problemas, e esvazio-me daquilo que já chorei por ti. Agarrado aos pulmões ficam os restos mortais do tabaco, ao coração os teus restos, e bem vivos por sinal.
És o último a sair daquele maço que se auto-intitula de Golpe de Sorte. Sempre é melhor do que ser chamado de Camelo. Fico nervoso com o teu toque nos meus lábios. Mas puxo. E sinto o fumo, o teu fumo, perdido na atmosfera do meu olhar, desenhando e escrevendo, rabiscando formas abstractas e lógicas no ar, como um pintor sem tela, ou com medo de pintar. Cada vez mais fumo à minha volta. Está no final. Vai acabar. E tu, também acabas agora? Ou já acabaste?

Um filtro, uma cinza apagada, uma mísera beata. O vestígio de um prazer culpado que eu deixei perdido num cinzeiro em qualquer parte, mas que continua a perseguir-me, atormentando-me por todo o lado. Tu.

04 junho 2010

Live and let Die

We care, we pray, we help... We carry on their own problems.
And what do they do? Fuck our life up with any problem at all.

Fight for your personal dreams... no one can hold you back from it. You're the one. YES, you can do it!

So smile, help, be free, be happy, solve all your problems, say everything you wanna say, to any person you wanna say to. Live.

Did you say it? I love you. I don't ever wanna live without you. today. Did you said it?...

(you should...)

It might all be gone tomorrow..


(little cute games don't matter. proud is death. don't be affraid. just open your mind and spread the words... you know you can do it. You are one word of distance from happyness.)