14 abril 2011

Fly me to the Moon

Lembro-me de ontem estar na varanda e não via a lua. Tinha o céu coberto de estrelas por cima de mim, mas não tinha a lua. A lua, e eu só procurava a lua. Porquê? Não reparei, nem por um momento, que eram aquelas estrelas que estavam do meu lado. Que me iluminavam a noite escura, uma suave luz de presença só para me aconchegar. Testemunhas do meu deitar tardio e das minhas conversas noctívagas, que alegravam a minha noite na ausência de um luar.
É sempre assim não é? Somos sempre ingratos. Temos os olhos fechados a tudo o resto, só vemos realmente aquilo que queremos ver. E eu criei esse pressuposto de que a lua era o importante a ver no céu à noite, esqueci-me das estrelas, do manto negro, da bruma que poderia também estar presente, da eternidade azul daquele céu. Esqueci-me disso tudo. Por causa de um pedaço de coisa, por causa de uma mancha branca, uma lua, que nem se dignou a aparecer para mim.
A espera compensa? Eu podia esperar eternamente, podia ficar ali, a ver o sol aparecer, e ela nem sequer me teria vindo dizer um adeus. Talvez estivesse como eu, focada num só objectivo, e deixando tudo o resto de lado.
Talvez sejamos os dois cúmplices de uma espera que não chega, de uma procura que não se mostra. Estávamos ali os dois, apenas à procura do que queríamos ver, fechados nos nossos casulos, sem sentir nada do que nos rodeava. E assim, ela não me viu, porque estava à procura de outra coisa. E eu não vi as estrelas, porque estava à procura da lua. E eu não reparei em qualquer coisa, ali naquele habitat nocturno, que - quem sabe - me considera a sua lua.
É assim que andamos todos. É assim que anda o mundo. Cego.
Cego para ver aquilo que deseja ter, quando no fundo, deseja mais aquilo que não se permite ver.

09 abril 2011

La Valse d'Amelie

Sabem quando vos dizem que a vida dá muitas voltas? Quando insistem vezes sem conta que ela tem altos e baixos? Ou melhor, quando dizem que às vezes por mais que queiramos usar a cabeça e ser racionais só conseguimos pensar com o que nos bate no peito? Pois, eu também não acreditava. Era daquelas coisas às quais eu era imune, daquelas coisas que só acontecem aos outros.
Bem, eu sou um outro aos olhos das outras pessoas.
A vida dá as voltas que precisa de dar, nessas voltas, vamos tendo momentos bons, outros menos bons, mas todos fazem parte da volta. Uma volta que só faz sentido se for completa, não ficar a meio só porque descobriu um lugar bom onde parar. A vida é para arriscar, e eu prendi-me tanto tempo com questões que não importam a ninguém, que deixei de arriscar, deixei de ousar.
É estranho... pensar que começo a sentir-me mais livre, agora, quando começo também a sentir-me mais preso (num bom sentido). Mas a verdade é que sinto. E surgiu tudo naturalmente, embora que provocado por decisões minhas.
Optei por cruzar a linha, e sair dos sítios onde já não tinha prazer de estar, descobrir outros.. e a partir daí, tenho um sorriso na cara mil vezes mais brilhante.
A vida acontece se nós a deixarmos acontecer, e escreve-se a si mesma, dependendo da quantidade de papel e da caneta que nós lhe damos.
Se ficarmos parados no mesmo sítio, à espera que ela aconteça, nunca nada vai acontecer. Se não lhe dermos papel, ela não vai ter onde escrever. Se não lhe dermos caneta, não vai ter com que se escrever.
Quando mais vivermos, mais vida vamos sentir.
E não viver por ter medo, é estar morto antes do coração deixar de bater.

(estou ciente que isto está um tanto ou quanto ao nível de Margarida Rebelo Pinto, mas foi um desabafo, e o que é certo, é que descobri que 'não há coincidências', se as coisas acontecem, é porque têm que acontecer.)

02 abril 2011

Chasing Cars

vai-te embora mancha maldita. vai-te de uma vez para sempre. vai para um sítio, seja longe ou perto, mas um sítio onde eu não te possa encontrar.
Porque é que voltas sempre? decidiste partir, leva a tua decisão até ao fim. (e não falo fisicamente.)
Pega nas tuas recordações, pega nas minhas memórias de ti, pega na lembrança do sentimento, e enterra. Deita fora. Para sempre. para que não volte a ocupar o lugar que já não merece que lhe pertença.
não mudo por ninguém. não mudo por ninguém. não mudo por ninguém.
- Olá Ninguém! - sim, estou a falar contigo.
Contigo, do outro lado do mundo que já nem sei onde estás. Mudaste tantas vezes, mas sem nunca deixares o mesmo sítio aqui bem dentro de mim.

Não acredito que estou a escrever outro texto sobre ti.
Vou deixá-lo a meio, como deixaste a nossa relação.
ou a meio, como o sítio onde partiste o meu coração.

a fingir que voei para a Argentina e por isso não pude acabar de escrever.

P.S - envia-me por e-mail os pedaços do meu ser que ficaram aí perdidos..