01 abril 2012

Nantes

Encontrei-me na traição de mim mesmo. Encontrei o fim com expressões deixadas a meio. Encontrei o meu final das reticências, mesmo que sendo errado, ou mesmo que seja certo escondido. Encontrei a minha transparência devido à opacidade que se me opunha. Encontrei grandeza em tão tímida pequenez. Encontrei um dinossauro encarcerado num pequeno lobo amedrontado. Encontrei beleza numa carcaça comum. Encontrei o espírito por baixo de uma voz fora de tom. Encontrei semelhança na diferença e vida no aborrecimento. Encontrei vontade disfarçada de posse e encontrei posse que não se encontrou a si própria. Encontrei medo onde julgava haver segurança. Encontrei um presente diferente do passado ao tentar revivê-lo por o achar mais fácil. Encontrei a complicação do ser humano nas situações mais simples. Encontrei o sorriso por entre o nojo, encontrei o riso por trás das semelhanças que o matavam. Encontrei o agradável no prazer inexistente. Encontrei a dúvida na tentativa da certeza, julgando de antemão que as tentativas não existiam. Encontrei o boom que queria sem o procurar, e encontrei o engano no querer esse boom. Encontrei a onomatopeia para escrever boom. E encontro-me sozinho a tentar apagá-lo como uma tecla consegue agora fazer à palavra.
Encontrei o mar à beira da praia, e encontrei a sorte no meio do azar.
Encontrei o pacifismo na agressividade, encontrei a calma na agitação e encontrei mais pontos de interrogação do que aqueles que os meus pensamentos criavam.
Encontrei a racionalidade perdida no instinto e o instinto, esse, encontrou a racionalidade escondida nele.
Tudo se encontrou.
E depois a porta fechou-me e a praia não era a mesma.

Deixa-me sozinho no meio da areia


Porque eu encontrei a areia pura e branca no meio da lama.
Encontrei qualquer coisa sem saber dizer muito bem o quê

e Reencontrei o medo de encontrar depois de tantos encontros de graus diferentes.

e no final,
percebi que é o suposto dia das mentiras e nas suas primeiras horas eu percebi a verdade.