16 dezembro 2011

Fake Plastic Trees

Estou cansado de viver num mundo onde mais facilmente se mente, só porque sim, do que se diz uma verdade. Estou cansado de um mundo falso onde nada é o que é.
Onde as ilusões não se tornam recordações, mas em que as recordações afinal são simples ilusões.
O mundo de ser não sendo. Um mundo de ver não vendo.
De amar não sentindo e de sentir não amando.
Só porque sim.
Porque se diz que sim.
Porque eles dizem que sim.
Estou farto dos eles que nem sei quem são.
Estou farto que as pessoas não vivam para si.
Estou farto desse mundo que diz e que julga e não nos deixa existir.

Farto de estar farto do que existe em mim
e fora.
Farto da rotina diferente que todos os dias crio

e de depositar esperanças naquilo que ameaça estar a chegar.
Estou farto de ser o azeite num mundo que é essencialmente água.

(tu és bolor e já não me preocupo nem afecto)


Tenho saudades de ser, se é que alguma vez fui.

30 novembro 2011

Life in a glass house

Uma parte de mim,
adormecida, a doer,
desperta toda a alegria
que tento esquecer.

De verdade, inesgotável
é o querer
como algo que me chama,
a rir, para o sofrer.

Sentimento que pensa a chorar,
sonho de ter e não pensar.
Pensamento de sentir
sem qualquer vestígio de ruir.

O ser que é e não se mexe,
sentimento que dói mas não desce.
A vontade de ter e de sentir
conjugada com a procura do sorrir.

Uma procura que dói.
Uma verdade que mente,
sentida por alguém que vê
o que outro alguém não sente.

27 novembro 2011

London London

se vais tentar, vai com tudo
senão, nem sequer comeces.
se vais tentar, vai com tudo.
isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos
e talvez a tua cabeça.

vai com tudo.
isso pode significar ficar sem comer durante 3 ou 4 dias.
pode significar passar frio num banco de praça
pode significar cadeia, escárnio, insultos, isolamento.
o isolamento é a dádiva maior
tudo o resto é um teste da tua resistência
de quanto realmente queres fazê-lo.
e vais fazê-lo.
apesar da rejeição e dos piores infortúnios
e isso será melhor do que qualquer coisa
que possas imaginar.

se vais tentar, vai com tudo.
não há outro sentimento como esse.
ficarás sozinho com os deuses
e as noites inundar-se-ão de fogo.
fá-lo, fá-lo, fá-lo.
por todos os caminhos, por todos os caminhos.
cavalgarás a vida directamente até à gargalhada perfeita.
é essa a única luta decente que existe.

Charles Bukowski

26 novembro 2011

Lacrymosa

Olá e adeus.

Sorris? Duvidas.

Eu já não duvido, e já não sorriu como sorria. Porque o para ti deixou de ser para ti da forma que era antes, e as más interpretações e as intuições deram lugar a uma técnica fria que me repulsa por atracção.
É um adeus e um olá. É a prova de que as minhas prioridades não estão nem nunca estiveram trocadas, e o meu erro é pensar que sim e tentar alterar as coisas. Nada se coloca no meu caminho, só a minha sede de vida, porque da impaciência surgem todos os erros letais que cometi, e é isso que me faz afundar aos poucos e cada vez mais.
Eu quero voar e no entanto o fundo do oceano sente-me cada vez mais perto. Porque eu nado para lá de vez em quando, com mais força do que aquela que me afasta dele normalmente. Não sou propício a sentimentos de naturezas descontroláveis. Eu gosto de amar. Mas como regulador, também amo odiar. E é isso que faço, é isso que vivo e a maneira como me caracterizo. São os opostos que vivem dentro de mim e vivem os dois soltos num mesmo corpo incapaz de achar um balanço.
Por isso eu vou, de um lado para o outro, como manda a maré ou a estação do ano. Numa eterna Primavera coberta de neve, que me faz odiar a forma como julgo que te amo.
Mas que amo só porque fazes parte do sonho que quero cumprir e da etapa que anseio viver para lá chegar.
Amo-te como a um banco que me ajuda a chegar às prateleiras do topo.

Adeus gélida esperança de alcançar o estado perfeito, aquele de comunhão de corpos e almas que nos liga para sempre.
Olá alegria de saber que provenho do sítio onde quero estar, que nasci no meio das páginas em branco que alguém preencheu com diálogos, e fui gerado no meio dos destroços que acolhiam fantasmas em corpos. E que viverei, um dia, no mundo onde pertenço e onde sempre estive.

Se isto é fingir finjo mais do que vivo, mas se isto é sentir eu sinto o mundo em mim e fora e onde quer que ele esteja, porque as tábuas não me limitam e só me fazem sonhar mais alto.

As etapas foram feitas para ser ultrapassadas, e as pessoas ligam-se porque estão destinadas a ajudar-se.
És a minha ajuda e o meu apoio. O ferro que fortifica as minhas prioridades acertadas e faz cair por terra o sonho de tentar fugir delas.
Por mais que doa e eu possa por vezes não querer, estou aqui dentro, e o preço a pagar por não estar seria não viver.
Por trás da dor, fico feliz que tenha sido assim.
Obrigado.
adeus e olá.

23 novembro 2011

Our spring will come

Um dia todos os dias vão ser dias e o presente o tempo que ansiaremos recordar. Tudo o que falha cresce de alguma forma, dentro de nós, como um correcto de um dia futuro. A procura de algo melhor é o que nos acompanha, mas de forma alguma pode ser aquilo que nos separa do agora. Estar de mãos dadas com o futuro não é sinónimo de estar de costas voltadas ao presente.
É isto que tenho que manter presente na minha mente. Que o agora importa por ser agora e por mais razão nenhuma. Um dia vai deixar marca porque aconteceu. Nem que seja para recordar um corpo qualquer sem alma que me cruzou.
A única dúvida que resta, a maior, e que leva a minha cabeça à auto-mutilação, é se o futuro vai ser como eu o penso, e se vou pensar neste passado como o passado nostálgico que me levou até onde irei estar... Ou se vou estar num sítio tão diferente do imaginado que nem me vou lembrar do que julgava ir ser.
Respostas? Estão naquele tempo que eu anseio alcançar, escondido por detrás desta bruma que eu sinto impossível de ultrapassar. Rimei, absolutamente por acaso. Aliás por acaso tem sido provavelmente a única razão porque me encontro a viver.

o ser humano embarca sempre numa eterna busca pela felicidade.
enquanto ela se esconde no tempo a que chamamos futuro, que vem sempre depois daquele que estamos a viver.

14 novembro 2011

Dear Heart

Se eu antes não estava preparado não é agora que estou. Ao contrário do que dizem, por mais golpes que levemos, não nos tornamos mais fortes. É só uma dor, no peito, tão quente e adormecedora como a primeira que se repete. uma e outra vez.
Adeus. é isto que se diz? eu não sei, e há uma parte inteira de mim que não quer saber. o que se diz ou não se diz, tanto quanto não quer ter de pensar. É demais. É injusto que nos façam isto, e pedirem de ti o que pedem.
Se antes eu queria brincar na careca e fingir que fazia crescer cabelo... Agora não quero ter a necessidade de o imaginar. É uma cura que deixa à vista o que se passa, e que por mais que tentemos não nos deixa esquecer.
Eu posso dizer que te amo e que é a ti que devo a minha vida. Porque por mais inútil, imbecil e ignóbil que eu possa ter sido para ti, nunca foi de verdade. É a estupidez do crescimento humano - mal-agradecido e injusto.
Quero ter mais mil anos para te pedir desculpa e para que tu vejas o que a tua influência produziu em mim. Porque por mais que eu diga que não me importo...é mentira.
Se te devo tudo, devo principalmente recompensar-te por sempre me teres dado o que tinhas e não tinhas e te teres posto em segundo plano para me deixares ser quem sou. Me teres tirado as palas dos olhos e me teres feito ver um mundo que me preenche e eu não conhecia. Não somos todos iguais e eu conheço as culturas, raças, ideologias e mentalidades diferentes por alguém me ter dito que a vida é criar o nosso próprio caminho e não seguir aquele que os outros já calcaram.
O fogo da primeira vez é o mais aliciante... foi assim que descobri o que o Gedeão queria dizer com "Desflorar florestas virgens".
Se tenho uma estante com livros - já alguns tendo em conta a minha longevidade - é porque um dia alguém me ensinou que para livros há sempre dinheiro. Porque cultura é vida e nós devemos viver e não sobreviver.
Que guardar é ter esperança numa eternidade que não vem, e por isso, não devemos - mesmo - deixar para amanhã o que sentimos e queremos fazer hoje. Eu não fiz, nem por sombras, metade do que queria fazer contigo. e é isso que dói.
É todos os dias acrescentar coisas à lista de afazeres a dois e lembrar-me que mais dia menos dia podemos ser só um.
És a força que me calhou, e eu tenho a melhor sorte do mundo por isso. A força, a determinação, a luta e a revolta no meu coração pertencem-te e vivem aqui no meu peito juntamente contigo, a bombear o meu sangue pelo meu corpo.
O meu medo é que, em mim, seja a única morada tua neste mundo que chamamos real.
Não vas.
nunca.
A minha porta aberta ao mundo está prestes a trancar.

22 outubro 2011

Lotus Flower

e foi mais um esforço dele para pertencer a um mundo que sabia previamente não o reparar.
de encontrar uma luz num vazio coberto de efeitos e sons ao qual não pertence.
uma esperança despedaçada por cínicos delitos de ser o que não se é, segredados por alguém que é aquilo que não assume sempre ter sido.

É assim que se perdem aquelas estrelas que julgamos irem brilhar para sempre
e assim também que se confunde o chão sonhado daquele que efectivamente se pisa.

Espelhos estilhaçados
com reflexos de ilusões mórbidas:
mascaras de um amor incauto

dizendo "olá"
como quem diz um
"adeus, até um dia"
que pressente
eternamente por chegar.

a procura de alguém que sabe nunca encontrar,
porque encontros imediatos são estrelas que
facilmente mudam de lugar
confundindo-nos de posições consoante o sítio
onde acreditamos vir a estar.

Constelações inconsteláveis,
inconstantes,
improváveis.
imaginadas num sonho nocturno que está desperto
destinado a rumar alguém que luta para não ser incerto;

ao invés de esperar não procurando
aquele que o saudará sorrindo
mesmo não estando perto

"Eu gosto de ti"
diz,
julgando-se certo daquilo que sente.
"Eu amo-te"
diz a estrela,
capaz de dizer somente
aquilo que a sua essência sente.

30 setembro 2011

Nature Boy

Um dia uma história aconteceu. Com risos, lágrimas, gritos e segredos sussurrados num ouvido. Depois ela prolongou-se, desta vez escasseando em risos e segredos, mas fortificando todos os gritos e lágrimas. Depois parou.
Ameaçou que tinha acabado, mas voltou.
Tem sido assim desde há algum tempo.
os anos passam sempre, e acontecem sucessivamente os mesmos dias, sempre.
Quando julguei que não nos íamos repetir mais porque os círculos utópicos não são eternos, enganei-me.

1, 2, 3... e tu estavas aqui.
1, 2, 3... as tuas asas cortaram o mundo no regresso ao sítio de onde vieste ver-me.
o nosso dia deste ano passou, e eu espero querer que o próximo ano não conte os dias como eu conto os teus quilómetros.

1, 2, 3... quando?
tenho um corpo colado ao meu, que não é o teu, e por alguma razão, isto não me parece natural.
3, 2, 1... amo-te.
não te preocupes em enviar uma carta. podes responder-me no ano que aí vem.

1, 2, 3...

18 setembro 2011

Last of English Roses

Querida muralha,

eu sei que nunca fomos muito próximos. Nunca fomos melhores amigos, nunca falámos sobre tudo, mais alguma coisa e ainda mais um bocadinho. Não. Sempre desejámos um bom dia mútuo pela manhã (pelo menos naquelas em que nos cruzávamos), tentámos sempre ter conversas de conveniência - o que frequentemente conduziu a momentos perfeitamente embaraçosos e dispensáveis. Se bem que eram esses momentos os únicos em que se podia sentir a comunicação perfeita entre nós.
Talvez o sangue pouco mais não seja do que isso mesmo, talvez o amor e a pele não sejam mais que isso também: palavras, termos. Inconsistentes e sem qualquer significado especial. Mas eu já me tinha acostumado, e embora não estivesse conformado, estava bem por poder ao menos manter contigo aquela disputa amigável de palavras, daqueles jogos com poucos ataques e muitas defesas porque é essa a única táctica com que me sei guiar, tendo em conta o adversário.
Depois tudo mudou. Houve um dia em que ninguém se saudou, e a esse dia seguiu-se outro em que a casa foi ficando mais vazia, até ficar o que vejo hoje: paredes brancas que não reflectem tudo o que já aqui aconteceu.
Toma bem conta dela, com todas as tuas pedras e com toda a tua protecção. Guarda-a porque ela é tudo para mim, e é ela o elo que me liga a ti, é o laço do nosso sangue e sem ela somos só uma análise, um grupo sanguíneo e uns tantos cromossomas. É por ela que eu te vejo e por mais que as nossas conversas sejam quase inexistentes e com uma grande lacuna em termos de interesse, existem.
Eu sei que agora vai ser tudo diferente, e eu tenho que me safar como conseguir. É a selva, são os leões do mundo real - aquele mundo feio - de onde ela me protegeu até hoje. Já não há muralha, nem bolha, nem nada que me possa afastar dele agora. Os olhos têm que ser abertos, as coisas têm que ser feitas e a vida tem que ser vivida da melhor maneira que eu souber. É a prova de fogo que a minha água sempre esperou.
Eu estou pronto.
Estou pronto, sim. Estou pronto para deixar as tuas fronteiras e para romper a bolha protectora. Estou pronto para crescer e dar esse passo.
Mas por favor, por favor, por favor, Muralha. Guarda-a contigo, a minha bolha. A coisa mais importante desta vulgar vida. O ponto alto, que me trouxe aonde eu estou, que deu ao mundo como bebé e me transportou por dezassete anos. Protege-a.
Porque mesmo estando longe, mesmo estando a crescer, mesmo estando a construir o meu refúgio no meio da selva dos leões, eu quero saber que tenho uma bolha para me dar um dia da sua transparência segura e para me dar um sonegado empurrão de volta à luta pelo descanso eterno, e só conseguimos descansar depois de nos cansarmos o suficiente.

Até Breve, a ti, Muralha.
Dá um beijo à Bolha por mim, diz que a vejo em breve como prometi.
Ao Armário, um abraço.. E não o deixes esquecer que mesmo no pólo oposto, continuo a gostar dele.

Vou ver-vos em breve e com um sorriso. Não quero encontrar-vos num pranto colectivo por falta de um.
Ouvi dizer que as bolhas nunca rebentam, achei por bem acreditar nisso.
Adeus.

P.S - Nunca cheguei a perceber, Muralha, se estou dentro ou fora das tuas fronteiras. Tu sabes? Apesar de tudo gosto muito de ti.

02 agosto 2011

My Body Is a Cage

Não senti o começo tal como não te senti envolver-me, cobrir-me, rechear-me desta massa que vem de algum sítio amaldiçoado que eu não quero conhecer. Não vejo um final, o final que sempre desejei e que naquele trago de bons tempos inspirei para mim. As certezas que construí com o meu esforço já não são mais certezas do presente mas sim enevoados sonhos de um passado que não se reflecte aqui e agora. É a bola de neve. O deixar arrastar, e arrastar, o eterno síndrome de juventude eterna que nos deixa agir como se tivéssemos todo o tempo do mundo, quem sabe até tenhamos, quem sabe não tenhamos nenhum, eu sinto como se ele tivesse acabado e eu esteja exactamente no mesmo sítio em que estava ao início.
Aquela massa que agora não é mais do que a descrença que me cobre, o feto da desistência, derrete-me a forma e o corpo, deixa-me irreconhecível aos novos tempos e igual aos inúmeros fotogramas que documentam o falhanço que eu era, deixei de ser, e agora abracei de novo. Sem sentir e sem perceber. Algum braço, um qualquer, de um conhecido que eu desconheço, agarrou-me, tocou-me, sentiu-me e deixou que eu o sentisse sem pensar; quando dei por mim estava onde estou agora, com toda a minha luta amachucada nas mãos, pronto para a deitar pelo penhasco e desistir do que quero ser, conformando-me, com outro algo que preenche as lacunas dos meus desejos sem me fazer sorrir. sonhando.
É sempre tempo para voltar à luta e, quem sabe, da segunda vez seja mais fácil recuperar a sede, a forma e a fome de vida e de cumprir os sonhos que eu ambiciono não querendo. conformei-me que não poderia escolher o meu sonho porque ele me escolheu a mim e que por mais que eu fuja ele vai estar sempre escondido num qualquer refúgio dentro de mim. E se eu lutar por ele, mesmo que queira fugir porque ele me consome, ele vai estar lá e soltar-se e eu posso cumpri-lo e aí sorrir, ser feliz e enterrar os cadáveres dos fantasmas passados deixando-os repousar em paz e chamá-los apenas em pequenas reuniões de conhecidos, como recordações. Recordá-los e não teme-los. Se eu fugir vou ter sempre um monstro a comer-me por dentro e a destruir o que indubitavelmente sou, cobrindo-me, dia após dia, dessa pestilenta massa de desistência que me transforma; não vou viver, vou arrastar-me entre estas ruas sob a pena dos olhares alheios que me julgam sem rumo.
A massa pode viver aqui, onde já viveu por quinze anos, mas eu expulsei-a e fui feliz por dois anos que ninguém recupera ou apaga, posso expulsa-la de novo. Faz parte de mim, independentemente de quanta massa me recheie, me cubra e me destrua, faz parte de mim não me conformar. Já sei o que luto, e contra o que vou, agora é fácil.
O meu corpo pode ser uma jaula mas eu posso usá-la da forma que me aprouver, e soltar a minha alma tão longe, tão forte que ela o fará suar toda a massa que me impede de ser alguém e me torna neste enorme traste ressequido de falhanço.
Não tenho quatro paredes onde viver; a minha casa é uma esfera achatada e chama-se mundo.

e eu quero deixar de ser um sem abrigo.

25 julho 2011

Sounds of Silence

Vazio.
Coberto dos ecos das palavras que outrora o enchiam de canto a canto
em eternas repetições do que já foi dito
lembranças de uma vida que existia e que era partilhada
recordações de um tempo em que as coisas aconteciam e eu as deixava acontecer.
O que se ouve agora é vago, quebrando o silêncio de modo meigo, num sussurro de memória que deixa esperança.
É raro o dia em que agora, aqui, se diz algo novo. É rara a luz que ainda consegue cortar a escuridão - ela já se fortificou, coberta de cota-de-malha, permanece impenetrável e sem fugir. Não porque já se tenha dito tudo, apenas porque tem medo da infinidade de coisas que ainda tem para dizer.
E porque ninguém quer gritar para não ser ouvido - todos pregamos para que alguém oiça, até Santo António procurou peixes - quem sabe eu não vá às aves ou às pequenas larvas, a qualquer lado.
Algo
algo além destas paredes que me prendem, deste chão que me suporta e deste tecto que me tolda a visão do eterno céu. Nada reflecte a vida e o riso, mas por outro lado

como é possível reflectir aquilo que não se recebe?
não sei até que ponto vivo, ou até que ponto se deve viver. Não sei se me cultivo e até que ponto não é demais. Pergunto-me se alguém vive satisfeito, e se sim, pergunto-me porque é que tive de nascer diferente.

03 julho 2011

It's not me, it's you

Talvez eu me arrependa profundamente
talvez tudo o que eu queira seja voltar,
talvez eu não saiba ainda como o admitir
e, quem sabe, talvez seja isso que me está a matar.

Como voltar para um sítio onde nunca estivemos?
Como viver e retomar uma vida que nunca vivemos?

28 junho 2011

100.

"Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."

José Gomes Ferreira.

Palavras de outro que expressam melhor que as minhas o quão cansado estou do significado que o mundo deu ao viver.

30 maio 2011

Home

A casa continua aqui
Não se moveu,
não cresceu
não esqueceu nada
Do que fizeste,
do que fizemos,
do que jurámos um dia fazer

Arrasto, desgastados, os pés
neste tumulto
Arrasto-me
por entre corredores magoados,
matando sonhos que recordam
ecos de risos ocos trancados

Perco-me nas portas
das conversas solitárias,
lembrando aquelas partilhadas
um dia, nas varandas imaginárias

Vivo nos nossos recônditos,
debaixo do seu resguardo
Tenho medo da solidão
que solta o choro que prendo calado

Vivo contigo
mesmo que não vivas em mim

Exactamente
na mesma casa,
a nossa casa,
a casa que nos deu um fim.

13 maio 2011

somewhere only we know

Era suposto ter sido só mais um dia. Um dia como todos os outros: fácil, passageiro e rapidamente esquecido. Era suposto, mas como o poder da suposição nunca é assim tão forte, não foi. Houve outras inúmeras suposições que desapareceram assim que a suposição de ser só mais um dia se foi. E agora já não sei o que suponho, ou se devo supor.
Ontem eu tinha um sorriso, constituído por tantas pequenas coisas... uma pulseira, um postal, muitos sonhos e outros tantos planos, três pedras, e algumas coisas mais que não quero lembrar mas que me pressionam para não serem esquecidas.
Tinha na mente milhões de destinos e milhões de aventuras, chegadas, partidas, tudo. Vários sítios, várias emoções, várias paisagens e ainda mais passagens, mas apenas um observador além de mim.
Repensei tanta coisa, enquanto as suposições estavam de pé e a pulseira no meu pulso, o postal - perdido algures numa casa - mas bem vivo e presente na minha intenção. Repensei valores que tomava como impossíveis, repensei vidas que tomava como mortes, mudei de pensamento e tornei-me em alguém melhor. Alguém melhor e com mais esperança num futuro que se adivinhava cada vez mais risonho, e principalmente, que se suponha mais estável. Suponha...
Hoje eu não tenho sorriso, tenho apatia. Como se eu estivesse aqui, a pairar, e o mundo ali em baixo sem me tocar. Tenho o braço leve, a chorar serenamente a falta da pulseira para lhe equilibrar o peso, encontrei um postal perdido na casa - quando já não faz sentido que ele viva na intenção -, tenho sonhos quebrados e planos furados, as três pedras descansam no mar de onde vieram no dia das definições e o resto...existe na mente e num presente, quando devia existir no passado como uma recordação.
Era suposto ter sido só mais um dia.
Até que a Liberdade chegou e quis tornar dela aquilo que eu mantinha livre, mas perto de mim.

09 maio 2011

we are the world

Tenho saudades de ser criança e de olhar para o mundo com olhos de quem vê tudo, mas verdadeiramente sem ver nada. Gostava de sentir o vento sem cheirar o podre, de cheirar as flores sem reparar que cada vez existem menos, gostava de rir, de ouvir rir, sem saber que são risos falsos. Gostava tanto, de ver tudo sem ver nada.
De viver, sem ter vontade a todo o momento de gritar no meio da rua a todos os zombies que passam por mim, meio mortos-meio a dormir. de olhar gelado, desejos secos e sonhos apagados. De lhes poder dizer para acordarem. Para viverem. Dizer que o mundo é só um espaço que nós habitamos, e que podemos fazer dele o quisermos. Dizer que se ele está como está, é só a nós que podemos culpar e não a mais ninguém. Gostava de poder andar por aí, sem ter a constante vontade de gritar "CHEGA": de culpar os outros porque não nos queremos preocupar, de nos desculparmos com a sociedade quando ela é formada por nós. CHEGA de viver como soldadinhos, de aceitar tudo o que nos dão só porque nos dizem que é bom, de criar um vício à volta de algo que alguém inventou e disse que era viciante. chega,chega,chega.
Gostava tanto de dizer que o interior é mil vezes mais valioso que o exterior, e que sabe muito melhor ser do que parecer. De dizer que é completamente vazio querer parecer algo que não se é, ou mudar para ser como os outros, para nos integrarmos, para sermos aceites. Que o importante é simplesmente ser o que se é, no nosso interior mais verdadeiro.
Dizer que não importa como se é desde que se seja fiel a isso. Dizer que não se deve reprimir uma vontade se ela for movida por um motor interior só e apenas nosso, mas que é ridículo inventar acções exteriores apenas para provocar o choque e se assumir como diferentes.
Gostava de dizer tanta coisa. Mas acima de tudo, gostava de ser ouvido. Não digo que sou detentor da razão, e que o que eu disse é uma verdade absoluta. Mas gostava de dizer, ser ouvido, e ser pensado.
Adorava mudar o mundo, e não o deixar cinzento como o encontrei. No entanto, eu sei. Já me conformei que vou morrer frustrado por não conseguir que ele se transforme. Frustrado quando perceber que ninguém me ouviu porque já ninguém consegue tirar os tampões e as palas.
E ele, o mundo, continua feliz a rodar, sem sair do mesmo lugar, dando voltas eternas ao inferno onde se vai queimar.

14 abril 2011

Fly me to the Moon

Lembro-me de ontem estar na varanda e não via a lua. Tinha o céu coberto de estrelas por cima de mim, mas não tinha a lua. A lua, e eu só procurava a lua. Porquê? Não reparei, nem por um momento, que eram aquelas estrelas que estavam do meu lado. Que me iluminavam a noite escura, uma suave luz de presença só para me aconchegar. Testemunhas do meu deitar tardio e das minhas conversas noctívagas, que alegravam a minha noite na ausência de um luar.
É sempre assim não é? Somos sempre ingratos. Temos os olhos fechados a tudo o resto, só vemos realmente aquilo que queremos ver. E eu criei esse pressuposto de que a lua era o importante a ver no céu à noite, esqueci-me das estrelas, do manto negro, da bruma que poderia também estar presente, da eternidade azul daquele céu. Esqueci-me disso tudo. Por causa de um pedaço de coisa, por causa de uma mancha branca, uma lua, que nem se dignou a aparecer para mim.
A espera compensa? Eu podia esperar eternamente, podia ficar ali, a ver o sol aparecer, e ela nem sequer me teria vindo dizer um adeus. Talvez estivesse como eu, focada num só objectivo, e deixando tudo o resto de lado.
Talvez sejamos os dois cúmplices de uma espera que não chega, de uma procura que não se mostra. Estávamos ali os dois, apenas à procura do que queríamos ver, fechados nos nossos casulos, sem sentir nada do que nos rodeava. E assim, ela não me viu, porque estava à procura de outra coisa. E eu não vi as estrelas, porque estava à procura da lua. E eu não reparei em qualquer coisa, ali naquele habitat nocturno, que - quem sabe - me considera a sua lua.
É assim que andamos todos. É assim que anda o mundo. Cego.
Cego para ver aquilo que deseja ter, quando no fundo, deseja mais aquilo que não se permite ver.

09 abril 2011

La Valse d'Amelie

Sabem quando vos dizem que a vida dá muitas voltas? Quando insistem vezes sem conta que ela tem altos e baixos? Ou melhor, quando dizem que às vezes por mais que queiramos usar a cabeça e ser racionais só conseguimos pensar com o que nos bate no peito? Pois, eu também não acreditava. Era daquelas coisas às quais eu era imune, daquelas coisas que só acontecem aos outros.
Bem, eu sou um outro aos olhos das outras pessoas.
A vida dá as voltas que precisa de dar, nessas voltas, vamos tendo momentos bons, outros menos bons, mas todos fazem parte da volta. Uma volta que só faz sentido se for completa, não ficar a meio só porque descobriu um lugar bom onde parar. A vida é para arriscar, e eu prendi-me tanto tempo com questões que não importam a ninguém, que deixei de arriscar, deixei de ousar.
É estranho... pensar que começo a sentir-me mais livre, agora, quando começo também a sentir-me mais preso (num bom sentido). Mas a verdade é que sinto. E surgiu tudo naturalmente, embora que provocado por decisões minhas.
Optei por cruzar a linha, e sair dos sítios onde já não tinha prazer de estar, descobrir outros.. e a partir daí, tenho um sorriso na cara mil vezes mais brilhante.
A vida acontece se nós a deixarmos acontecer, e escreve-se a si mesma, dependendo da quantidade de papel e da caneta que nós lhe damos.
Se ficarmos parados no mesmo sítio, à espera que ela aconteça, nunca nada vai acontecer. Se não lhe dermos papel, ela não vai ter onde escrever. Se não lhe dermos caneta, não vai ter com que se escrever.
Quando mais vivermos, mais vida vamos sentir.
E não viver por ter medo, é estar morto antes do coração deixar de bater.

(estou ciente que isto está um tanto ou quanto ao nível de Margarida Rebelo Pinto, mas foi um desabafo, e o que é certo, é que descobri que 'não há coincidências', se as coisas acontecem, é porque têm que acontecer.)

02 abril 2011

Chasing Cars

vai-te embora mancha maldita. vai-te de uma vez para sempre. vai para um sítio, seja longe ou perto, mas um sítio onde eu não te possa encontrar.
Porque é que voltas sempre? decidiste partir, leva a tua decisão até ao fim. (e não falo fisicamente.)
Pega nas tuas recordações, pega nas minhas memórias de ti, pega na lembrança do sentimento, e enterra. Deita fora. Para sempre. para que não volte a ocupar o lugar que já não merece que lhe pertença.
não mudo por ninguém. não mudo por ninguém. não mudo por ninguém.
- Olá Ninguém! - sim, estou a falar contigo.
Contigo, do outro lado do mundo que já nem sei onde estás. Mudaste tantas vezes, mas sem nunca deixares o mesmo sítio aqui bem dentro de mim.

Não acredito que estou a escrever outro texto sobre ti.
Vou deixá-lo a meio, como deixaste a nossa relação.
ou a meio, como o sítio onde partiste o meu coração.

a fingir que voei para a Argentina e por isso não pude acabar de escrever.

P.S - envia-me por e-mail os pedaços do meu ser que ficaram aí perdidos..

27 março 2011

(just like)

O mundo tinha mudado se as pessoas não arriscassem?
Se ninguém pusesse o pé depois do limite estabelecido por sabe-se lá quem?
Não, pois não?
(eu juro que isto não é retórico).

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

A.C

06 março 2011

This Masquerade

É Carnaval. É quando ninguém leva a mal, mas também ninguém leva a bem. É quando vestimos ainda mais máscaras que no dia a dia, e fazemos coisas que não faríamos, com a desculpa de ser o dia que é. As pessoas, por baixo das mascarilhas, dos fatos elaborados, e de tudo isso, continuam as mesmas. Mas por uns dias e umas noites, julgamo-las diferentes.
Hoje eu não tive máscara exterior, nenhuma extra às que já uso no dia a dia, tive só um sorriso mascarado e uma diversão interiormente falsa que rapidamente se tornou verídica. Acho que me obriguei a divertir-me e me obriguei a não pensar nas coisas que não quero mas que são sempre as mais fáceis de pensar.
Todos os dias me sinto diferente de todos de umas formas estranhas. Todos os dias quero ser algo diferente e cada vez que faço, tenho, sinto alguma coisa, descubro que toda a minha personalidade está errada e tenho o desejo de fazer desse pequeno momento, toda a minha vida. Como se no dia a dia não fosse o suficiente. como se só nestes dias é que eu sou eu em pleno. Fácil seria sê-lo todos os dias, transformar estes dias na vida. Mas há tantas coisas que me deixam assim, tão bem. Porque é que não hei-de viver como vivo? vivendo-as a todas nos momentos certos e pensando profundo nos momentos em que devo também? faz parte. dói. mas faz parte.
Tudo o que vivemos e tudo o que parece mais inofensivo, pouco importante, no futuro pode voltar com o triplo da importância. Só temos que nos agarrar ao que vem, porque vem sempre qualquer coisa. Não podemos estar fechados à espera que uma coisa em especial chegue porque no entretanto chegam tantas outras que perdemos se vivermos de palas.
E como é que sabemos que não vivemos de palas?
Não sabemos. mas é por momentos como este, agora, que percebemos isso. Porque estou bem, porque sei que aconteceu algo, mas que eu não sei bem o quê. e até amanhã eu sinto esta diversão com pretensões de ser eterna mas que se extingue antes da manhã. e depois? depois há-de vir algo mais por certo. E eu vou esperar, com pretensões (também) de não ter palas. Porque elas cortam, e elas magoam.
gostava de saber o quê, ou quem, és tu. vermelho.
Porque finalmente, isto existe, este texto. Horrível, sem pontuações, com repetições nojentas e sem qualquer interesse de leitura. Mas existe, e com vontade de escrita, com escrita antes de pensar. Existe como o desabafo que eu precisava. E isso, agora, basta-me.

06 fevereiro 2011

Teenage Riot

tenho raiva de mim.

ainda não fiz a única coisa que tinha prometido começar a fazer em 2011.
sou um falhanço.
tenho medo de tentar.
falhar
falhar
falhar.
e?


é preciso começar a tentar ser alguém. e a não mudar de vida na esperança que isso conte como uma tentativa.

19 janeiro 2011

Satisfaction

É impossível, eu já sei. Sim, eu sei. Posso andar sempre na lua enquanto piso a terra, posso ser a personificação da distracção. Mas eu já sei. Já sei que nunca estou satisfeito, independentemente do que aconteça, nunca estou satisfeito.

Nestes dezassete anos, lembro-me que nunca fui feliz apenas com o que tinha. Houve uma altura em que me aguentava, por ti. Mas bem, até a única coisa que eu tinha e dava valor se foi. Tu sabes que a vida e o mundo já não são os mesmos. TU vês, onde quer que estejas, tu vês. Tu matas a tua vista de saudades. E eu? não vejo. Tenho saudades. Podias ter pensado um pouco em mim também. Mas sê feliz.

Mas, desde à seis anos para cá, o buraco é tão negro e grande, o abismo é tão terrorífico.
Não sei o que é que preciso.

Bem vindo 2011.
Obrigado pelo que quer que seja que me estás a tentar ensinar com isto.

16 janeiro 2011

Zombie

Acho que o meu cérebro desligou na passagem de ano. Ou eu mudei. Ou qualquer coisa entre estas duas coisas aconteceu. Perdi-me no mundo e desliguei-me do pensamento. Quero escrever, porque me lembro da libertação que isso me dava. Quero tanto e não consigo. O ano é outro... acho que sou outro.. sou? eu estou feliz, eu estou bem, eu tenho um sorriso na cara e os dentes todos brancos à mostra. Mas esta é uma parte de mim, as letras, a escrita. Porque é que bloqueio quando vejo o abecedário? Perdi-me no caminho? Perdi o fio que ligava o que sou ao que quero ser? onde estou?
Eu sei que pedi mudança...mas...
sou tão estúpido.
se mudasse só um número eu ia questionar e desejar que tivesse mudado tudo.
mudou tudo.
e eu queria que fosse só um número.
han??pois, eu sei.