21 fevereiro 2010

Wild World

Não importa o quanto nos esforçamos. O quanto tentamos ao máximo estar atentos e controlar todos os nossos actos... às vezes, agimos por impulso. É natural. Somos seres humanos - por mais que odiemos isso - somos uma bifurcação com impulso e racionalidade. Selvagens.
Não importa o que queremos, o que no nosso interior parece certo ou errado. As nossas noções de moral estão na maioria dos casos deslocadas de contexto. Não podemos andar num ritmo separado do mundo como se ele fosse nosso, não podemos ter tudo aquilo que queremos, porque nada gira à nossa volta, a não ser o nosso pensamento egoísta. Somos egocêntricos por natureza, somos iguais a toda a raça humana, mas insistimos em dizer a nós mesmos que somos únicos, especiais...
O mundo tem a sua dinâmica, o seu ritmo e velocidade... quem somos nós para a alterar? Julgamos-nos donos e senhores do destino, capazes de decidir a nossa vida por nós, de amar quem queremos, de fazer o que nos apetece e de ser e existir da forma mais estúpida que nos surgir na mente. Mas e se é tudo uma ilusão?
Queremos tirar o máximo partido da vida, queremos ver o mundo no seu auge, vê-lo completa e verdadeiramente, a cem por cento... mas já nos esquecemos de Platão? e da sua alegoria? E se o mundo em que vivemos não passar apenas de uma sombra do mundo real?
Hoje em dia prestamos culto a um só Deus: o corpo. Queremos explorar o mundo com o nosso corpo, correndo planícies e escalando montanhas. Alcançar o mais alto dos cumes e nadar até ao mais profundo dos mares... sem nos apercebermos que na maioria das vezes, voltamos para casa com o mesmo conhecimento do que nos rodeia que tínhamos antes da "viagem".
Por isso... de que vale apanhar aviões, ir aos quatro cantos do mundo, rastejar por grutas e voar até à lua... de que vale isso tudo? De que vale ver a lua por uma minúscula janela? Eu já a tive nas mãos sem sair da minha cama. O meu Deus é o espírito.
Não sei se somos nós que estamos errados, se é o mundo que anda errado, ou se sou eu que tenho um defeito de fabrico. Seria mais feliz se soubesse? Não.
Eu tenho a minha atitude, a minha voz, o meu corpo, o meu espectro e a essência do meu ser, e vou dançando - à minha maneira - dentro do ritmo do mundo. Por vezes desafio-o, e passo todos os dias a experimentar movimentos novos. Alguns resultam, e ao fim do dia, ao deitar, sorrio ao recorda-los e penso sempre em repetir. Outros dão completamente errado, e recordo-os com uma lágrima no canto do olho ao deitar. Mas todos fazem parte do meu processo de experimentação, dos meus ensaios para a coreografia final.
É demasiado fácil ceder a tentações. É demasiado fácil dizer que nunca iríamos ceder, até sermos tentados... É demasiado fácil dizer que somos fiéis e honrados.
Habitamos um mundo civilizado. Vivemos numa civilização selvagem. Somos fruto do que nos criou e por mais personalidade que tenhamos, somos selvagens desde nascença. Não podemos negar quem somos. Resta-nos aproveitar as nossas características e juntar o selvagem à coreografia, inventar uns passos selvagens, combinar os nossos interesses e as pequenas coisas que nos diferenciam dos outros humanos para criar uma dança única e memorável. Juntar o mau e o bom. Juntar as alegrias e as tristezas para formar uma vida.
Ensaiar, todas as horas do dia, trabalhar até ao mais pequeno pormenor, cada movimento, cada músculo de cada dedo, para que nada dê errado na apresentação final... Para que o espectáculo corra da melhor maneira. Não para ouvirmos aplausos porque isso não é o cerne da questão, mas para o nosso corpo brilhar dentro do pequeno estúdio coberto de terra onde tudo termina.
Porque se não experimentar-mos sem medo, e nos limitarmos a viver a mesma vida que todos os outros... o nosso corpo não vai brilhar, e as cortinas nunca vão fechar...

E o público vai ficar, para sempre, à espera do momento certo para aplaudir.

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