04 fevereiro 2010

Quarto 210

hoje preciso de um pois, preciso de um se...

Quartos. Varandas. Paredes e medos. Pintados, tapados. Defeitos escondidos por inúmeros divagares conscientes da mente, que vai viajando através do impossível da nossa alma, que vai sugando os restos de corpo do nosso espectro e nos vai purificando até que consigamos atingir o nível acima. O nível superior. O nós.
Nós. Tão vulgar. O que faz do "nós" algo superior? Porque é que não podemos ser felizes sozinhos? Porque é que todos fazemos questão de sobrevalorizar o amor, de o elevar a tão alto escalão, que ele nunca chega a ser um quarto daquilo que dizem que é... A maior parte do encanto e da força no amor está na tradição oral. Da maneira como passamos, uns aos outros, a força arrebatadora (exagero inconsciente da verdade) com que o amor nos assolapou o coração. De como tomou conta de nós como se fôssemos marionetas.
O amor não nos deixa sem fôlego, o amor não nos deixa doentes, o amor não mata, o amor não reanima para a vida. Queremos com tanta força acreditar que o mundo é um conto da fadas que perdemos o nosso juízo racional, o amor é a nossa irracionalidade. O nosso apetite, a nossa atracção louca e incontrolável. O amor não passa de um desejo camuflado.
Um desejo sexual em fuga, que deixa o seu espaço para percorrer todo o nosso corpo e alma. O amor.

O que é que queres de mim? hoje sinto-me assim...

Toda a transpiração e a sede juntas num quarto. O desejo e a fome, saciados. Um instante, uma respiração, um olhar superficial com a maior profundidade alguma vez vista. Sexo.
O amor... A junção de dois corpos com duas almas entrelaçados no momento da Eternidade. Uma junção perfeita, depois de todas as coisas que se contam e se dizem. O que é o amor?... O único puzzle perfeito, com encaixe perfeito, sem número de peças definido.

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1 comentário:

  1. Que excelsas palavras, de um realismo gritante, diria! E por mais que o Homem se esforce por se contentar, apenas, com o seu próprio amor, jamais conseguirá resistir à fatalidade de ele próprio ser um ser relacional.

    Um abraço,

    Samuel Pimenta.

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