25 dezembro 2010

Baby, it's cold Outside

É capaz de estar frio lá fora, mas estou pouco preocupado com o que quer que seja que o meu corpo possa sentir. Foram demasiados os anos que passei assim, num aquecimento físico para tentar compensar o termóstato mental avariado. As constipações resolvem-se com lenços, as gripes com um dia de cama e comprimidos, por isso, vou lá fora. Vou lá fora só porque me apetece ir lá fora, e quem sou eu para me castrar a mim mesmo? Quem é o meu lado social para castrar o meu lado humano?
ninguém.
Por isso, sim, eu vou lá fora. Esteja neve, granizo, chuva, vento ou sol. Eu vou. Porque independentemente do frio que faça eu vou estar quente. Como alguém que se aquece com a sua própria força. Como um comboio a carvão que à terceira viagem já não precisa de combustível. Aqueço-me só por ter cumprido uma vontade estúpida.
Gostamos tanto de menosprezar vontades estúpidas só para nos sentirmos inteligentes que deixamos de nos proporcionar aqueles prazeres quase invisíveis, tornando-nos ridículos. Somos humanos, temos vontades humanas. Mesmo sem estar grávidos, temos desejos. Momentâneos, podem até parecer ridículos, mas desejos. Às vezes tão simples de cumprir como vestir o roupão e ir à varanda. Hoje fui. O mundo não parou, não começou a girar ao contrário, o meu coração também ainda bate da mesma maneira. O que mudou foi só uma coisa: senti um segundo de prazer quando abri a varanda. Um segundo de um prazer que - por ser desprezado - podia nunca ter acontecido. Claro que agora não respiro bem pelo nariz, mas o ar que me enche, vem com mais respeito por mim. Porque eu fiz algo completamente desnecessário, só porque queria.
Não percebo porque é que o físico é sempre mais valorizado. Os bens essenciais são aqueles que nos protegem o corpo da morte. Aqueles que mantêm o nosso corpo vivo. Então e a mente? Não é importante mantê-la viva também? Deixá-la com vontade para viver? De que é que vale vivermos corporalmente se a nossa alma está morta? Não é viver. É arrastar. E a vida não é para ser arrastada. A vida é para ser vivida. E viver é criar situações, interagir.
Quantas experiências de vida posso eu retirar se ficar sentado no sofá, fechado em casa, porque está frio? E se for lá fora? Posso ir contra alguém, posso comentar que está frio, posso ficar doente e conhecer um médico. A vida cresce quando nós a vivemos. Quando pegamos nela, as coisas começam a acontecer. E do nada, de um desejo ridículo, nasce um propósito. E não é isso que todos procuramos? uma razão de viver?
Por isso sim. Pode estar um tornado lá fora, pode nevar, chover granizo e estar a trovejar. Eu vou lá fora. Porque o viver preso é um castigo, principalmente quando a cela somos nós próprios. E ao contrário do que todos queremos acreditar, a liberdade é um estado de espírito e não um regime político. Por isso eu vou lá fora. Porque no meu peito, eu já lá estou.
e hei-de estar.

1 comentário:

  1. amo por completo dre di mi vida! *.*
    e concordo plenamente contigo, se nos apetece algo porque nao fazemos? se algo nos da prazer porque nao arriscar? a vida e uma aventura para correr riscos, por isso temos que aproveita-la e passar com toda a adrenalina esses riscos todos!

    Diana

    ResponderEliminar