24 abril 2010

Black Roses

Há qualquer coisa que me chama, enquanto te chama a ti também. Qualquer coisa, simples, que me puxa, me confunde, mas me deixa forte e a sentir que suporto o peso do mundo com o meu sorriso. Um toque, um olhar, uma palavra. Mais nada. É a simplicidade no momento certo, a aterrorizante certeza de perder o controlo sobre mim. É o teu jeito simples de me entrar na mente, de me fazer sorrir e me deixar à deriva, a flutuar, entre a realidade e o sonho, à procura de algo que acaba sempre por me encontrar.
São tantos medos e tantas vontades, tantos impulsos descontroladamente controlados, tantas vozes sem ouvir voz nenhuma. Tantos sim escondidos por detrás de tantos não. Tantos inseguros não sei disfarçados por milhentas provocações. Tantas trocas e brincadeiras, tanto em tão pouco. Tão nosso. tão meu...
Há qualquer coisa que me pede, se ajoelha à minha frente e me implora para não fugir e para não te deixar fugir. Há qualquer coisa, certa, errada..sonhada, que me diz que existes e que vamos ser um. Um de muitos. Um dos muitos uns formados por duas pessoas, mas a única colectividade realmente individual, sem partilhas, mas posses, porque não se partilha quando só existe um ser. Somos um. Única unidade. Único. Sempre. Nunca.
Sou fome, sou sede, sou tanta coisa. Sou o não saber e o não querer saber, sou a quantidade e regularidade com que me regas no teu jardim, a tua flor a quem dedicas muito ou pouco tempo. Sou o teu sonho que tens medo que te domine. Sou o medo com que sonhaste a vida inteira. Sou as tuas sensações e as minhas. As nossas verdades sonhadas um dia. As realidades perdidas no nada. Um nada que preenche tudo, que me enche o jardim de uma cor diferente de verde. És a novidade carregada de expectativas que me mudou a cor há esperança. És o futuro que apareceu no meu presente e sem esforço eliminou o passado. És o conjunto de todos os tempos, de todos os verbos e substantivos. És a língua portuguesa com que te vou presentear e a língua universal com que te vou amar. És tanto e tão pouco, és o sonho de voltar a ter jardim, és o meu sonho florido e eu sou a tua flor perdida.
És todas as letras com que escrevi este texto para ti. És eu. És o fruto do meu amor e da minha imaginação, dos meus sonhos. És o meu transe e o meu desejo de nunca mais viajar. És a minha contradição, és as minhas indecisões. És o não sei da minha vida, e a verdade, é que nunca sei nada.
Peço-te que me regues todas as noites nos meus sonhos. Agora que arrancaste as ervas daninhas dá uma nova vida a este usado jardim, a este estrume, a este nada escondido. Planta o que sempre sonhaste que iríamos sonhar e colhe o que eu um dia desejei vir a colher contigo. Faz.

Sou a rosa vermelha que um dia sonhaste colher e as pétalas negras que repousam, esmagadas, nas tuas mãos.

[tenho as mãos marcadas pela rosa negra que há pouco segurei. Perdi-me na nossa unidade e não sei qual de nós sou.. Já não estou certo que existas. Não estou certo que estejas comigo sem ser em mim. Onde estás?]

2 comentários:

  1. Esta onde nunca deixara de estar... no teu jardim. Onde as flores verdes deixaram de existir. Mas para dar lugar a um espaco repleto de flores vermelhas. Seras que preferes isso? (ou sera que ja preferiste...)

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  2. posso escolher flores verdes todos dias ou vermelhas uma vez por semana.. é caso pra dizer, mais vale só que mal acompanhado.. mas será que isso é verdade?

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