16 fevereiro 2012

Arriving Somewhere but not Here

Estou cansado de esperar pela minha vida.
Estou saturado da sala de espera, dos números vermelhos no visor colado ao canto da sala que vão chamando - número a número - as senhas a quem é permitido viver. Nunca chega a minha. Eu sei que está quase, já esperei tanto tempo que agora é só mais um suspiro até poder ver o meu número vermelho e a permissão para soltar asas e ser feliz. Mas estou farto. Não serve de nada dizer que não, porque a verdade é que estou mesmo.
Estou farto deste vaguear, deste stand-by imbecil em que me encerrei, deste voyeurismo a que me propus até à grande estreia do meu improviso. Estou farto de ver tudo à minha volta a acontecer e eu a passar ao lado porque não é aqui que a minha epopeia começa. Estou farto de ser um narrador não participante, de falar na terceira pessoa e recordar na segunda, farto de passar páginas em vez de passar dias e de ver o meu nome no elenco adicional dos créditos.
Estou farto de dar a assistência, farto de ser o apoio ao protagonista, farto de lhe dar brilho e farto desta figuração especial sem falas chave. Farto de não mudar nada porque este filme ainda não é o meu. Farto de ser o ajudante de realização, farto de ser o assistente de encenação, farto de co-produções e de ver os outros colherem os frutos do seu êxito enquanto eu vendo os bilhetes para um filme que não é o meu.
Farto de revelar negativos que eu não tirei e farto de estar desfocado nos planos em que, involuntariamente, apareço.
Estou farto de papeis secundários, farto de assistir vidas que não são a minha, farto de escrever em vez de existir e de ouvir o fado sem o sentir. Cansado de ante-estreias, da curta-metragem, deste cenário trocado no qual o meu filme não foi escrito, farto da falta de fundos que adiam a minha produção e das burocracias que ainda tenho que terminar até o poder viver.
Saturado desta interminável passadeira vermelha, que a meus olhos já é preta, e que não me deixa chegar ao sítio onde tudo acontece. Farto desta boca de cena tão grande à minha espera e eu parado nos bastidores. Chega de sala estúdio e chega de experimental. Estou pronto para a minha estreia e já sei o suficiente para saber como quero viver.
Por favor, abram as minhas cortinas!

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