15 janeiro 2012

Requiem

Sempre se sentiu um ser à parte?
Oiça: neste momento você está aí e eu estou aqui; também me sinto à parte. Sempre estive à parte, quer no Morvan, quer aqui em sua casa.
Mas terá havido momentos em que não se sentiu à parte?
Não.
Nunca? Durante toda a sua vida?
Nunca.
Até mesmo, sei lá!... quando estava com alguém, mesmo durante o amor? Acha que o homem está sempre só?
O homem, não sei; não quero generalizar. Mas eu, sim.
E isso angustia-o?
Nada. Eu ficaria angustiado se acaso não existisse distância entre si e mim.
E como poderemos aproximar-nos de outro ser?
Prefiro não me aproximar.
Prefere manter sempre uma distância?
Ah, prefiro!
Mas porquê?
E você, não prefere manter uma distância?
Nem sempre.
E porquê?
Porque gosto da experiência de estar com alguém, estar misturado com alguém.
Pois olhe que eu não.
Não será também esse o jogo que se joga, de certa forma, nas suas peças?
A última peça que eu escrevi tem trinta anos. Está a falar-me de uma coisa que eu apaguei por completo da memória: o teatro.

Entrevista a Jean Genet, por Nigel Williams

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