09 maio 2011

we are the world

Tenho saudades de ser criança e de olhar para o mundo com olhos de quem vê tudo, mas verdadeiramente sem ver nada. Gostava de sentir o vento sem cheirar o podre, de cheirar as flores sem reparar que cada vez existem menos, gostava de rir, de ouvir rir, sem saber que são risos falsos. Gostava tanto, de ver tudo sem ver nada.
De viver, sem ter vontade a todo o momento de gritar no meio da rua a todos os zombies que passam por mim, meio mortos-meio a dormir. de olhar gelado, desejos secos e sonhos apagados. De lhes poder dizer para acordarem. Para viverem. Dizer que o mundo é só um espaço que nós habitamos, e que podemos fazer dele o quisermos. Dizer que se ele está como está, é só a nós que podemos culpar e não a mais ninguém. Gostava de poder andar por aí, sem ter a constante vontade de gritar "CHEGA": de culpar os outros porque não nos queremos preocupar, de nos desculparmos com a sociedade quando ela é formada por nós. CHEGA de viver como soldadinhos, de aceitar tudo o que nos dão só porque nos dizem que é bom, de criar um vício à volta de algo que alguém inventou e disse que era viciante. chega,chega,chega.
Gostava tanto de dizer que o interior é mil vezes mais valioso que o exterior, e que sabe muito melhor ser do que parecer. De dizer que é completamente vazio querer parecer algo que não se é, ou mudar para ser como os outros, para nos integrarmos, para sermos aceites. Que o importante é simplesmente ser o que se é, no nosso interior mais verdadeiro.
Dizer que não importa como se é desde que se seja fiel a isso. Dizer que não se deve reprimir uma vontade se ela for movida por um motor interior só e apenas nosso, mas que é ridículo inventar acções exteriores apenas para provocar o choque e se assumir como diferentes.
Gostava de dizer tanta coisa. Mas acima de tudo, gostava de ser ouvido. Não digo que sou detentor da razão, e que o que eu disse é uma verdade absoluta. Mas gostava de dizer, ser ouvido, e ser pensado.
Adorava mudar o mundo, e não o deixar cinzento como o encontrei. No entanto, eu sei. Já me conformei que vou morrer frustrado por não conseguir que ele se transforme. Frustrado quando perceber que ninguém me ouviu porque já ninguém consegue tirar os tampões e as palas.
E ele, o mundo, continua feliz a rodar, sem sair do mesmo lugar, dando voltas eternas ao inferno onde se vai queimar.

1 comentário:

  1. Revi-me! Um belíssimo texto, como é habitual da tua parte. Continua a brindar-nos com as tuas palavras. E que elas não se calem, NUNCA!

    Tudo de bom,

    Samuel Pimenta.

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